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ESPORTES: Coco rubro-negro

publicado: 23/07/2021 11h45, última modificação: 23/07/2021 11h45


Seu José vende cocos na praia de Intermares. Não é qualquer praia. Trata-se do paraíso localizado na região metropolitana de João Pessoa. Uma praia agradável para quem busca praticar esportes marítimos, correr ou caminhar na calçadinha, namorar à beira-mar, ou apenas sair de casa e tomar uma água de coco. 

No caso de Seu José, não é qualquer coco. É de longe o coco mais doce de toda Cabedelo, cidade onde fica localizada a praia de Intermares. E se esticar até a capital, pode procurar coco melhor por Bessa, Tambaú e Manaíra, não terá outro igual. Talvez lá pro Cabo Branco, quem sabe, por ali no Cowboy, o Rei do Coco, a doçura se equipare. Mas só se tomar fechando os olhos, pois a água de coco na praia de Intermares é experiência única.

Assim como muitos paraibanos que ganham a vida com o comércio na orla, Seu José não nasceu na capital. Veio de Pombal, município do Sertão da Paraíba, distante quase 400 km da capital. 

Mas antes de vender cocos na maravilhosa praia de Intermares, Seu José fez um verdadeiro arrodeio. Ou, como se diz em João Pessoa, um balão. Viveu por muitos anos no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu seu filho, hoje um adolescente já habituado à Paraíba. 

O que os clientes daquele trailer de coco não sabem é se o amor do vendedor pelo Flamengo vem de pequeno e se intensificou na passagem pelo Rio, ou surgiu somente quando ele esteve por lá. 

Todos os dias Seu José vai trabalhar vestido com um de seus mantos rubro-negros. De tantas opções, tem até aquela terceira camisa azul e amarela de 2017, para variar. E diante da pandemia de covid-19, usa máscara de proteção facial com o símbolo do clube carioca.

Assim como em todo o país, para o lado onde se olha, lá estará a pauta política. Em Cabedelo não é diferente. Pouco se fala em possível terceira via. Ou é lado A, ou B. Não tem meio-termo, tampouco a “coluna do meio”, tão conhecida no jargão futebolístico. 

Mas no coco de Seu José não tem disso, não. Ele só quer saber do Flamengo. Sabe de cor a escalação em cada partida que o time entrou em campo desde o início do ano. Opina sobre as substituições, fala quem deveria entrar no lugar dos convocados para defender a camisa verde e amarela do Brasil; sofreu com a saída de Gerson e comemorou a volta de Arrascaeta da seleção uruguaia. Analisa cada adversário pelo título do Brasileirão. Para ele, disputar o campeonato de pontos corridos com sede de campeão é obrigação. 

Seu José acompanha tanto a rotina do time que sabe dizer até quem vai bem nos treinamentos e quais jogadores podem render melhor nas partidas da semana. É quase um setorista. Detém mais informações sobre o elenco rubro-negro carioca que muito veículo da imprensa especializada. Talvez tenha deixado no Rio um parente espião, só pra ter acesso às novidades em primeira mão. 

Seu José torce, sofre, celebra e ama o Flamengo, apesar de toda a política do clube e da associação à política que sua diretoria faz questão de manter. 

Para o nobre vendedor praiano, o Flamengo é maior do que a política que fazem lá nas bandas da Gávea. Tanto que investe na tradição e na perpetuação do amor em família. Perguntado se o filho adolescente é flamenguista, Seu José nem titubeia:

— Lá em casa todos são Flamengo, e cada um tem sua camisa oficial do time, comprada no ano!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa 23 de julho.