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ESPORTES: Constatação e vexame

publicado: 17/08/2020 11h26, última modificação: 17/08/2020 11h26

 

Foi vexatória a eliminação do São Paulo na noite de quarta-feira (30), dentro de casa, apesar da ausência da torcida, pelas quartas de final do Campeonato Paulista. O Tricolor de Dani Alves, Pato e companhia teve estrutura de primeiro mundo para dar condições físicas e psicológicas aos jogadores durante a pausa do futebol, motivada pela pandemia do novo coronavírus. Caiu para o Mirassol, que além de pequeno, sofreu com a perda de 18 jogadores do seu elenco justamente por conta da parada e de seus graves efeitos à economia. 

Aqui não cabe o embate entre time grande contra time pequeno, ou até de que time maior não pode perder para um de menor estrutura. A diferença entre dois universos que se enfrentavam naquela partida ia muito além das condições de treinamento e preparo. O Mirassol havia perdido oito titulares. Precisou contratar jogadores para compor elenco e ter como minimamente entrar em campo. Zé Roberto, autor de dois dos três gols do Mirassol, foi inscrito às pressas. O confronto era de um time grande, cheio de marra e altamente estruturado contra um time pequeno, limitado financeiramente e improvisado. 

Chamou atenção no desastre da eliminação a atuação do técnico Fernando Diniz. Eu, como torcedor do São Paulo, sonho com o dia em que queimarei minha língua por todas as cornetadas que dei nele desde a sua contratação. Quero acordar e descobrir um grande trabalho realizado, e ainda pensar no quanto estava errado por tudo o que disse. Estou pronto para reconhecer meu erro e pedir desculpas. 

Mas, a preço de hoje, Fernando Diniz continua sendo o mesmo treinador que foi para o Fluminense, e que só a diretoria do São Paulo não viu quando o contratou. Com exceção do que fez no Audax, quando se projetou como profissional para grandes clubes, Diniz não tem nenhum trabalho de alto nível. E pior, seus times seguem o mesmo padrão: muito controle de bola, excesso de finalizações e péssima pontaria. É o time que joga bem mas não faz gol. Triste e previsível. Valha! 

A zoeira na internet não perdoou. Nem mesmo torcedores são-paulinos pouparam o treinador das piadas. “Tem que mudar essa regra no futebol de que é preciso fazer mais gols para vencer” e “É preciso dar ao menos sete anos de tempo e o elenco do Barcelona para que o Diniz possa mostrar todo o seu potencial” foram duas das milhares de piadas. Diniz foi dormir com seu nome sendo o mais comentado no Twitter na noite após o jogo. 

O que mais impressiona é a responsabilidade da imprensa esportiva no Brasil quando quer levantar uma pauta e acaba exagerando nas avaliações elogiosas a determinado jogador ou treinador. Apesar da democratização dos meios e da produção de conteúdo, a caneta e o microfone ainda têm muito poder. E, sabendo ou não do poder que detêm, profissionais da imprensa muitas vezes passam da conta. Exaltam mais do que devem e criam mitos que na verdade são castelos de areia fundamentados na falsa informação. É preciso ter responsabilidade até quando se elogia. 

Assim foi com Fernando Diniz. Disseram que era um grande treinador, que iria elevar o patamar do futebol no Brasil, que tinha outra mentalidade. Muita conversa. Em uma mesa redonda na ESPN Brasil, Diniz, então treinador do Fluminense, chegou a ser comparado com Pep Guardiola, do Manchester City. A cara de pau foi tanta que chegaram a confrontar números dos dois! Quero ver quem é o torcedor do Flu que deseja Fernando Diniz por lá de volta. 

O caminho percorrido pela imprensa em torno dos atletas é semelhante. Quem não se lembra do alarde para Bernard e sua “alegria nas pernas”? Se formos trazer exemplos de jogadores com muita mídia e pouca bola, a lista é grande: Pato, Elkeson, Keirrison, Lucas Lima, Bernard, Bruno Cortez. 

Da mesma forma como são prejudiciais as fake news, esse tipo de notícia elogiosa que mais parece plantada não cabe no jornalismo. O melhor remédio para falastrões é informação com seriedade. 

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 30 de julho de 2020.