Começo meu texto de hoje com a humildade em admitir que mordo a língua por ter dito que Léo Moura havia sido a maior contratação do futebol paraibano. A história mostrará que errei, assim como outros que compartilharam do mesmo pensamento que eu também erraram. É diante das grandes crises que a verdadeira essência de um ídolo, ou de quem se propõe a ser um, é revelada. E nesta, talvez a maior da humanidade, tão brutal e violenta quanto uma grande guerra, como tem sido a luta contra o coronavírus, o jogador do Botafogo da Paraíba mostrou de que tamanho ele realmente é.
Faço questão de poupar a diretoria do Belo, e reafirmar que tanto no critério esportivo, quanto na grande aposta de marketing, eles acertaram ao trazer um jogador que carregava vasto currículo e integrava o elenco de um clube da Série A. Apesar dos 41 anos de idade, Léo Moura não era um moribundo em fim de carreira pingando de clube em clube. Parecia que sua vinda à Paraíba seria para consolidar um projeto vitorioso.
Mas o mundo parou, e o futebol foi obrigado a parar junto. A crise de saúde pública é real. O novo coronavírus teve força suficiente para adiar os Jogos Olímpicos de Tóquio, a Eurocopa, suspendeu o calendário esportivo internacional. Algo jamais visto antes. Não se trata de uma “gripezinha, um resfriadozinho”, como pontuou aquele incapaz que ocupa atualmente o cargo de presidente da República.
O esporte não parou à toa. Está provado que o isolamento social é a melhor forma de evitar a disseminação da doença.
Jair Bolsonaro acha que não. De forma irresponsável e criminosa, se pronunciou à nação para dizer que as pessoas precisam retomar suas vidas normalmente, como se o vírus não fosse tão perigoso assim. Já são mais de 24 mil mortes pelo mundo.
A declaração do presidente dividiu atletas brasileiros. Mas o caso aqui não é político. Não se trata apenas de classificar quem é progressista e quem reproduz discurso de um líder que beira o fascismo e tem se esforçado para conduzir as pessoas à morte. Não é centro, direita ou esquerda unidas contra uma extrema-direita. A questão entre ficar contra ou a favor de Bolsonaro é escolher entre duas opções: a opinião da Organização Mundial de Saúde, dos médicos, cientistas, de todas as autoridades sanitárias e líderes sérios, ou a opinião do cretino maior e dos canalhas que o cercam.
Léo Moura se apequenou, e já escolheu seu lado. Nas suas redes sociais digitais, exaltou o presidente Jair Bolsonaro. Diversos torcedores do Botafogo-PB protestaram de imediato, também pelas redes sociais.
Mas como em toda crise, enquanto ídolos morrem, outros surgem, ou sobem de patamar. Dani Alves, jogador do São Paulo e capitão da Seleção Brasileira, tem enfrentado até as discordâncias de fãs bolsonaristas, mas não abre mão de ficar do lado da segurança das pessoas diante dos riscos com o coronavírus. Na Paraíba, o zagueiro Breno Calixto, do Treze, tem sido uma voz ativa contra os absurdos que vêm do Palácio do Planalto. Logo após o último pronunciamento, o zagueirão entrou com um “carrinho” certeiro:
“O que o “presidente “ acabou de falar foi um absurdo, ainda to sem acreditar como um cara desse tem um ato criminoso desse e ainda tem apoiadores meu Deus , mas uma coisa eu digo, ESSA CULPA EU NÃO CARREGO COMIGO, mas fico bastante preocupado com a situação do nosso país .”, disse, em seu perfil no Twitter. No dia seguinte, prometeu uma festa grande, com portões abertos, caso Jair Bolsonaro sofra impeachment.
“Já to avisando quando o impeachment acontecer e essa crise na saúde passar e esse rapaz cair, vou fazer um churrasco na minha casa e todo mundo tá convidado vai ter muito pagode cerveja e carne pra nós podem chegar pra comemorar todo mundo junto podem me cobrar”, prometeu Breno Calixto.