Demos na semana passada o pontapé inicial de uma grande polêmica sobre qual dos dois principais jogos de futebol para videogames é o mais próximo da realidade, o que oferece uma experiência mais divertida e o que traz a melhor sensação do que é a emoção de acompanhar uma partida de futebol de verdade. FIFA e PES agradam e desagradam os fãs dos games por aspectos diversos. Na coluna de hoje iremos abordar especificamente as diferenças entre os modos mais famosos dos dois concorrentes: FUT, do FIFA, e myClub, do PES.
Os dois modos de jogo fazem muito sucesso porque dão a possibilidade de o jogador montar seu próprio time com atletas que jamais jogarão juntos. Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar formando um trio de ataque num mesmo clube? Sim, é possível.
Para deixar o caldo do clubismo ainda mais grosso, é possível escolher qual camisa eles irão vestir, e ainda trazer o reforço de atletas que foram ícones do esporte em outras gerações, porém atuando em suas melhores condições. Dá pra colocar sob o manto do Flamengo, por exemplo, Gabigol jogando ao lado de Romário, só para se ter uma ideia. No último esquadrão que montei assim, com o reforço de lendas do futebol, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho jogavam juntos pelo mesmo time, como em 2002, ao lado de craques da era moderna, como Robben e Vidal. Dá também para brincar com possibilidades de repatriamento. Montar o elenco atual do Mengão e trazer de volta Lucas Paquetá, ou antecipar utopias, como fazer Cavani vestir a camisa do São Paulo.
O que mais diferencia o myClub, do PES, do FIFA Ultimate Team (FUT) é a forma de contratar os jogadores, pois em ambos, depois que um jogador é trazido ao time, fica no elenco para sempre.
Os dois jogos trabalham com sistemas de cartas. Cada jogador é representado por uma carta. No FUT, as cartas são compradas diretamente, num mercado paralelo onde acontecem leilões, com valor direto dos jogadores. No myClub, os jogadores são trazidos por meio de olheiros. Você compra olheiros que trabalham com aquele tipo de jogador, e especifica características, habilidades. Se eu quiser trazer Edinson Cavani para o meu São Paulo, basta contratar dois olheiros: um específico de jogadores do PSG e outro de jogadores uruguaios. Na interseção de características, o atacante será o único. É possível elencar até três olheiros por contratação.
Além da forma de contratar, há também diferenças na evolução das cartas, no preço e no entrosamento.
A evolução de cada jogador só existe no myClub. Quando você contrata um veterano, ele ainda tem uma margem de evolução e suas habilidades crescem à medida em que ele joga por seu time. Para jogadores mais jovens, essa margem é muito maior. Então se Lucas Paquetá não é um jogador que desequilibra no FUT, com certeza será no myClub ao final de seu treinamento. Por outro lado, o FUT traz cartas especiais baseadas no desempenho real de cada jogador. Se Gabriel Jesus entrou no segundo tempo no Manchester City, marcou três gols e garantiu a vitória carregando o time nas costas, o jogo lança para ele uma carta de valor maior. Essa interação do mundo real com o virtual acaba sendo uma experiência única para quem, além de curtir o futebol nos videogames, também gosta de acompanhar as ligas.
Em ambos os jogos se usa dinheiro virtual para contratar jogadores, mas tanto em um quanto no outro há a possibilidade de comprar dinheiro virtual com dinheiro real e poupar tempo de jogo para a contratação dos atletas. No FUT leva mais tempo contratar que no myClub.
O terceiro ponto é o entrosamento. No FUT existem linhas que formam ligações fracas ou fortes entre os jogadores, e isso influencia no entrosamento do time. Essas linhas correspondem a nacionalidade e liga onde atuam. Então, usando o exemplo acima, de Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, eles até poderiam atuar juntos, mas teriam entrosamento ruim, pois não têm nada em comum. No myClub, basta botar pra jogar junto. Apesar da aparente simplicidade, o custo de “manutenção” dos jogadores no myClub é mais alto do que no FUT.
*publicado originalmente na edição impressa de 16 de abril de 2020.