Entrava ano, saía ano, e os fãs brasileiros de futebol no videogame não tinham acesso a um bom jogo para as plataformas virtuais que retratasse a liga nacional com todos os clubes, padrões, jogadores e rostos oficiais e, ao mesmo tempo, fosse divertido de se jogar. Na concorrência desde 1995 para ser o melhor jogo do ano, o FIFA, da EA Sports, e o PES, da Konami, disputam o gosto dos jogadores em um campo que dentre seus prós e contras, parecia ser um embate quase palmo a palmo. Para quem curte acompanhar o Brasileirão, a notícia boa é que em 2021, o mercado de games finalmente tem um representante à altura da nossa competição.
O que vinha acontecendo nos últimos anos era uma disputa que obrigava o jogador a escolher entre a jogabilidade e o direito autoral, isto porque o licenciamento das ligas, clubes e jogadores nunca foi pleno para ambos os jogos. Então se no FIFA o jogo em si acontecia de forma mais fluida, somente o PES detinha os direitos para exibir a liga brasileira conforme o torcedor acompanha pela TV. Na última edição do game da EA Sports, o FIFA 20, o atacante Gabriel Barbosa, do Flamengo, aparecia com o nome de “Oswaldinato”.
E aí fica a pergunta: diversão é jogar um jogo fictício mas que funciona legal, ou diversão é controlar os craques da vida real nos gramados virtuais e fazer disputas com os amigos, entre clubes, jogando torneios de mentirinha e acirrando a rivalidade? A resposta vai de cada um. Mas sendo o Brasileirão exclusivo do PES desde 2016, o jogador que quisesse controlar o craque do seu time tinha que abrir mão da jogabilidade, que é melhor no FIFA.
No caminho inverso havia outro problema: o da formação de público. Quem opta pelo melhor jogo no quesito jogabilidade acaba controlando sempre os craques do futebol internacional. Como o FIFA vinha sendo melhor que o PES há pelo menos dez anos consecutivos, o resultado disso era a aproximação de toda uma legião de fãs que cresceu admirando Messi e Cristiano Ronaldo, exaltando Neymar e esquecendo que no Brasil, apesar de nível técnico inferior, há grandes craques por quem podemos torcer. Se continuam assim, as gerações seguintes passam a acompanhar Salah, Mbappé e Haaland, sem jamais saber quem são Brenner e Pedro, craques da nova geração do São Paulo e Flamengo, respectivamente, até que os passes destes sejam comprados por algum clube gringo.
Parece exagero atribuir torcida ao futebol de videogame, mas lembremos que futebol é cotidiano, e se a criança não está no estádio, a vivência é construída a distância, seja pela transmissão da TV, seja pelo controle dos jogos. Assim se consolidaram torcidas de todas as regiões do país que vibram pelos times do Sudeste. Da mesma forma surgem jovens que dizem torcer por Barcelona, Juventus, e desconhecem clubes brasileiros que há bem pouco tempo atrás já foram grandes. Pergunte a uma criança de 12 anos se ela conhece a Portuguesa. Mais fácil que reconheça clubes pequenos da Europa, como West Ham, Osasuna e Torino.
A boa nova para os fãs de videogame e também para o futebol brasileiro é que o PES 2021 ficou muito bom. O jogo foi lançado no fim do ano passado e só agora venho recomendar porque pude testar. A Konami resolveu todos os problemas de jogabilidade. O que antes era truncado, nesta nova edição flui bem. Acabaram também as trombadas, os bugs. Virou um excelente game de futebol, com a vantagem de ter a liga brasileira completamente licenciada. Para quem quiser experimentar, a versão “Lite” do game é gratuita para download. Vale a pena baixar e disputar uma pelada entre amigos, nem que seja on-line, com toda a segurança necessária, enquanto a vacina para a covid-19 não chega.