A final da edição 2019-2020 da Liga dos Campeões da Europa, a Champions League, será histórica. Com a pandemia do novo coronavírus, a competição teve que se adaptar a um rígido protocolo para que não fosse inviabilizada. Jogos em partida única a partir das quartas de final, campo neutro e estádios vazios. Perdeu-se um pouco da magia do futebol, mas foi o caminho encontrado para que as disputas continuassem. E se as regras eram as mesmas para todos, a volta da Champions nivelou os times e beneficiou quem está crescendo na competição, pois o calendário apertado impõe um ritmo de mata-mata semelhante à Copa do Mundo, e isso ajuda a embalar quem já vem bem.
Além dos diversos fatores extracampo, que já são suficientes para marcar na história dos esportes coletivos esta final, se enfrentarão dentro de campo dois gigantes, e posso afirmar sem nenhuma dúvida que não há favorito, pois, apesar de a imprensa esportiva ter começado a dar o devido destaque ao time do Bayern após a goleada de 8 a 2 sobre o Barcelona, chamando agora a equipe alemã de “rolo compressor”, o PSG merece respeito não só por Neymar e Mbappé, mas pelo conjunto no qual o grupo se transformou e como todos os jogadores vêm crescendo na competição. Até o argentino Di Maria, um dos mais contestados no elenco, está voando.
A partida pela quarta de final contra o Barcelona foi um vexame que nunca mais será esquecido pelo time catalão. Aquele sim foi um chocolate dos bons! Como o Bayern de Munique não recebe por parte da imprensa brasileira a mesma visibilidade que os times espanhóis, parecia algo inesperado. Nas redes sociais, diziam que o Barcelona estava, diante dos alemães, em seu “dia de Brasil”, numa duplamente injusta referência ao 7 a 1 sofrido pela Seleção na Copa do Mundo de 2014.
Injusta, primeiramente, porque diante do Bayern, o Barça é freguês. Na edição 2012-2013 da Champions, o Barcelona levou de 7 a 0 nas duas partidas de mata-mata contra o time alemão, que naquela temporada foi campeão. Claro que sete gols somados em dois jogos não é a mesma coisa de um 8 a 2 numa só partida, mas a injustiça é classificar a goleada como algo inédito. De ambos os lados há personagens que viveram os dois momentos dentro de campo. Messi e Piqué, pelo lado do Barcelona; Neuer, Boateng, Alaba e Muller pelo Bayern. O mais curioso é o caso de Thiago, que mudou de lado. Antes, vítima da goleada, nesta última virou algoz.
A segunda injustiça é comparar este último confronto com o vexame na Copa de 2014. Vejam bem, eram seleções representando seus países, e o Brasil jogava em casa. Arrisco-me a dizer que foi o maior desastre esportivo da história do futebol brasileiro. É impossível culpar apenas o técnico, ou escolher um ou outro jogador. Muitos estavam completamente perdidos em campo. O 7 a 1 foi uma falha coletiva que começa na gestão da Confederação Brasileira de Futebol. Até hoje, as lições não foram assimiladas.
Ainda sobre injustiças, sobra mídia para times espanhóis, ingleses e italianos, enquanto para o Bayern e seus jogadores, o que falta em visibilidade, sobra em futebol. O mais prejudicado nesta temporada é, sem dúvida, o centroavante polonês Robert Lewandowski. Bem menos badalado que Cristiano Ronaldo, Messi e até mesmo Neymar, o polonês de 31 anos acumula a incrível marca de 55 gols nesta temporada e é cotadíssimo para o prêmio de melhor do mundo.
Se vai dar o embalado e bilionário PSG, ou o gigante Bayern, só saberemos no domingo. A certeza desde já é de que será um jogão.
*coluna publicada originalmente na edição impressa de 20 de agosto de 2020.