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ESPORTES: Lugar de praticar esporte é dentro de casa

publicado: 08/04/2020 10h23, última modificação: 08/04/2020 10h23

 

Com ou sem histórico de atleta, estamos todos vulneráveis ao novo coronavírus. Diante da pandemia que tem ditado novos modos de ser e de consumir pelo mundo inteiro, a recomendação de todas as autoridades de saúde é ficar em casa para reduzir a disseminação do vírus. E nunca se precisou tanto de uma rotina de exercícios físicos quanto neste período de isolamento social. 

Praticar esportes é bom para a saúde física, e indispensável para o equilíbrio emocional. Na quarentena, incluir uma prática desportiva pode trazer diversos benefícios, até para a liberação de hormônios que contribuem com o nosso bem-estar mental.

A despeito do que dizem o irresponsável que ocupa o cargo de presidente da República, senhor Jair Bolsonaro, e o inconsequente jogador do Botafogo-PB, Léo Moura, o isolamento social não é questão de opinião, ou política. Há provas de que este é o melhor meio de contenção deste vírus que se espalha tão ferozmente por todo o planeta, assolando países ricos e pobres sem fazer distinção de suas vítimas. Um vírus para o qual não existe remédio ou vacina. Quem expõe a vida das outras pessoas e se posiciona com opinião pessoal contra a ciência ou é imbecil ao extremo, ou mal caráter. 

Fiquemos, então, em casa. 

Por outro lado há quem questione qual o risco que um atleta consciente de todos os perigos do coronavírus pode oferecer à sociedade se sair de casa para praticar seu esporte sozinho. 

A defesa de quem quer sair para praticar seu esporte ao ar livre é de que o atleta não vai se contaminar e, portanto, também não trará o vírus para dentro de casa. 

Tomemos como exemplo dois esportes que podem ser praticados isoladamente e que necessitam de uma rotina de saídas ao ar livre para que os treinos possam ser cumpridos: corrida de rua e ciclismo. 

O atleta pode muito bem sair de sua casa, cumprir seu treino sem encostar em nada, sem interagir com ninguém e, na volta, antes de entrar em casa, cumprir todo o protocolo de higienização recomendado pela Organização Mundial de Saúde, com calçados do lado de fora, roupa lavada imediatamente e tudo o mais que for necessário. 

Mas, ainda assim, há riscos à sociedade. 

Imagine que você é o atleta cuidadoso. Sai para correr, cumpre o treino do dia, volta pra casa e curte aquela endorfina que só quem pratica esportes entende. Mas ao correr ou pedalar pelas ruas da cidade, uma pessoa que está na janela há dias vivendo sob regime de quarentena e vê um atleta exercendo sua liberdade debaixo de um falso cobertor de segurança acha que pode fazer o mesmo e resolve sair de casa para dar só uma corridinha. Espairece, senta no banco da praça, não toma os mesmos cuidados antes de entrar em casa e contamina a mãe idosa que em momento algum concordou com aquela atitude. 

A senhorinha morre por conta da influência de um atleta cuidadoso que acreditava não estar fazendo mal a ninguém. 

Estamos todos conectados, e nossas ações podem influenciar outras pessoas. Por isso é tão importante compreender que o isolamento social pressupõe um esforço coletivo, e que se esta premissa não for cumprida por cada pessoa que tem condições de ficar em casa, o esforço será em vão, e muitas vidas serão perdidas.


*publicado originalmente na edição impressa de 02 de abril de 2020.