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ESPORTES: Ninguém quer ser campeão

publicado: 12/02/2021 08h00, última modificação: 12/02/2021 10h13


Corre um boato nos bastidores dos clubes que participam do Campeonato Brasileiro de Futebol 2020 - Edição Covidão a respeito de gravíssimo mau agouro para o time que se sagrar campeão. Esta é a única explicação possível para tantas situações de candidatos que chegam a tocar a taça e, de repente, parece que abrem mão. Escorregam em suas próprias lambanças, criam problemas improváveis, tropeçam inacreditavelmente. O medo diante de um azar vindouro seria uma justificativa plenamente cabível. 

O primeiro a sacudir a conquista pra bem longe foi o São Paulo. Estava sete pontos à frente do segundo colocado, com um caminho fácil nas rodadas finais, quando soube do possível mau presságio. Diziam lá pras bandas do Morumbi que a chacota feita com o time hoje pela empáfia de outrora e do atual jejum de títulos seria muito maior, e que o trecho do hino, quando diz “as tuas glórias vêm do passado” faria ainda mais sentido. 

O Flamengo foi outro a fugir do augúrio. Só dependia de si para emendar um bicampeonato, mas a derrotas para o Athletico Paranaense e o empate com o Red Bull Bragantino melaram o caminho do Rubro-Negro. A notícia que correu na boca miúda pela Gávea foi que além de este ser o último título, o futuro reservaria ao Flamengo a vaga de vice eterno do Vasco, invertendo assim a famigerada piada. 

Com caminho livre, o Internacional estava à beira de ser campeão. Nem sua torcida acreditava na conquista. Nem a própria diretoria, que contratou um outro técnico para a temporada seguinte, considerando que o atual não conseguiria levar o elenco ao título. Pois bem, enquanto os outros abriam caminho, o Colorado foi chegando, incrédulo diante das superstições. Isso até a última quarta-feira, quando consultaram um vidente gaúcho, que leu o futuro na borra do chimarrão, e alertou os cartolas para a desgraça que estava por vir, com Grêmio campeão mundial em 2021, Renato Portaluppi dançando valsa em pleno estádio Beira-Rio e até o Papai Noel se vestindo de azul no fim do ano. 

Poucos devem ter percebido, mas quem primeiro soube da informação de que o título traria azar ao time campeão foi o Galo. O time comandado por Sampaoli chegou a ser favorito. Mas o clube é mineiro, e bem ao estilo “come quieto”, soube e não contou pra ninguém. Entregaram no confronto direto contra o São Paulo e ainda deixaram os tricolores se iludirem com aquele timeco que tanto tocava pra trás e pros lados, seguindo as instruções do então treinador Fernando Diniz.

Esperto foi o Botafogo, que fugiu do título como o diabo foge da cruz. Perceberam que já basta o azar que os persegue, não conseguiriam suportar mais que isso. Apontaram para o outro lado da tabela e por lá ficaram com muita competência. Seguro morreu de velho, né? Vai que todo mundo resolve abrir e o Glorioso termina campeão por engano, então garantido mesmo está ficando na última colocação. 

Logo que identificou a estratégia, o Vasco, que não é besta nem nada, tentou copiar. Deve ficar lá pelos últimos colocados, porém, é improvável que alcance o resultado ideal, que seria a vice-lanterna. Precisa perder os três jogos que lhe restam, torcer por três vitórias do Coritiba e ainda contar com bons resultados do Goiás. Mas o Cruzmaltino segue acreditando.

Triste mesmo é que o mau agouro não possa mais cair no Fluminense, pois para quem pula da Série C direto para a A, todo castigo é pouco.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 12 de fevereiro de 2021.