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ESPORTES: No tempo de Fernando Diniz

publicado: 11/12/2020 08h00, última modificação: 16/12/2020 09h29

Há tempos eu critico o trabalho do técnico Fernando Diniz, hoje líder do Brasileirão no comando do São Paulo com 50 pontos, 7 de vantagem para o segundo colocado Atlético Mineiro. Critiquei Diniz neste espaço e nas minhas redes sociais digitais, na condição de jornalista que há anos acompanha o esporte, e também na condição de torcedor. O trabalho do treinador era inconsistente, o time não apresentava um padrão de jogo e os resultados negativos colocavam-no sob forte pressão. O São Paulo acumulava eliminações vexatórias: para o Mirassol, no Campeonato Paulista; além da queda ainda na fase de grupos da Libertadores. 

Por muito menos foram demitidos treinadores com aproveitamentos melhores que o de Fernando Diniz. No entanto, a diretoria resolveu confiar no trabalho do técnico e sustentá-lo diante da crise. 

Em ano de eleição para a presidência do clube, a troca de comando técnico poderia surtir um efeito ainda pior e encaminhar o clube para o rebaixamento da Série A. E caso se confirmasse a demissão, ficaria em evidência o erro da gerência de futebol que tanto bancou o técnico, mesmo diante da pressão interna de dirigentes, da imprensa e da torcida. 

O futebol prometido por Diniz é o sonho de todo torcedor. Joga bonito, pra frente, pressionando o adversário, mantendo controle da posse de bola com variações táticas e jogadas ensaiadas no meio da partida. Ele mostrou que podia quando foi técnico do Audax por cerca de cinco anos e culminou seu trabalho impecável naquela campanha do  vice-campeonato do Paulistão de 2016. As críticas ao trabalho de Diniz eram no sentido de que ele não conseguia provar o mesmo desempenho em times da elite do futebol brasileiro. Teve oportunidades no Athletico Paranaense e no Fluminense, e em ambos mostrou a mesma linha de trabalho com futebol bonito, mas que não alcançava resultados. O time jogava mas não fazia gol. 

A mesma coisa chegou a acontecer no São Paulo. Até há bem pouco tempo atrás o time apresentava um estilo parecido com o que fora praticado tanto no Athletico, quanto no Flu, e caminhava para um mesmo desfecho. A questão aqui não se limita a cobrança por conquistas. Títulos são necessários para times de ponta, mas nem sempre se consegue. O São Paulo de Fernando Diniz sequer ganhava jogos simples. Eram sequências de empates e derrotas bobas que punham em xeque o trabalho do treinador. Ele pedia mais tempo, mas já passara um ano à frente do Tricolor. 

A troca de técnicos no futebol brasileiro é problema crônico que parece não ter fim. No caso do São Paulo, foram dois os acertos da gerência de futebol: manter o treinador e manter praticamente o mesmo elenco do início da temporada. Apenas o atacante Luciano, contratado do Grêmio em troca por Éverton, se juntou ao elenco. Todas as outras mudanças foram fruto de reformulação interna e um trabalho consistente para fazer com que aquele time frágil do meio do ano se tornasse este confiante líder do Campeonato Brasileiro, forte candidato ao título. 

Ainda é cedo para cantar a vitória do São Paulo, mas já suficiente para reconhecer que o tempo de Diniz chegou. E mesmo que não conquiste título algum na temporada, apresenta um time consistente, bem treinado e com padrão de jogo. A manutenção de Diniz, comissão técnica e elenco serve também para mostrar ao futebol brasileiro que é possível reconstruir apenas com trabalho.

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 11 de dezembro de 2020