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ESPORTES: O fabuloso Jorge

publicado: 09/07/2021 08h00, última modificação: 16/07/2021 09h26


Ele carrega o nome de um santo. Não um qualquer, mas o santo guerreiro. Também é composto no nome do Santo Papa, antes que passasse a ser chamado de Francisco. Na Umbanda, é sincretizado com Ogum, que assim como São Jorge, também vai à guerra.  

Nome curto, forte. Por ser extremamente afável, faz questão de dissociar da sua imagem qualquer referência à insensibilidade, tanto que para além dos mais íntimos se apresenta sob o diminutivo Jorginho. É pura doçura no trato com os amigos e colegas de trabalho. Em atuação, é mais frio do que se possa imaginar. 

O pequeno Jorge sequer jogou no Brasil. Natural de Imbituba, interior do estado de Santa Catarina, foi para a Itália logo aos 15 anos. Hoje é ítalo-brasileiro, mas seu futebol é todinho de parte de mãe. Foi com ela que Jorginho aprendeu a jogar bola. E por mais que pai ensine, tudo o que se aprende com mãe, vocês sabem, é diferente. 

Jorginho atua como volante, mas não qualquer um. É daqueles clássicos, que fazem falta ao futebol brasileiro. É lindo vê-lo jogar, e ao mesmo tempo triste que seja pela Itália. Um cadenciador de ritmo, motorzinho de meio-campo. Joga com classe, arma jogadas. Movimenta o time como poucos. A cena de Jorginho ao lado de Casemiro no meio campo da Seleção Canarinho faz parte dos sonhos de nove em cada dez torcedores brasileiros apaixonados por futebol que assistem à Eurocopa e à Copa América. 

Assim como todo brasileiro bom de bola, Jorginho não teme desafios. Nunca tremeu diante de adversário mais forte ou estádio lotado. Venceu com méritos a Liga dos Campeões da Europa, sendo um dos pilares do meio-campo do Chelsea contra o todo-poderoso Manchester City do técnico Pep Guardiola. 

A semifinal da Eurocopa 2020 tinha tudo para ser um jogo mentalmente desestabilizador para qualquer atleta profissional. Uma das principais competições do universo do futebol foi adiada em decorrência da pandemia que parou o mundo. Um ano depois, após tantos jogos disputados em estádios vazios, a Euro começa e, para delírio geral, com a volta gradual das torcidas, graças à vacinação contra a covid-19. 

Sim, vacinas salvam vidas e são a única forma efetiva de se vencer este mal. 

Naquela semifinal acontecia o duelo dos desacreditados. As badaladas seleções de França, Alemanha, Bélgica e Portugal haviam caído fora nas fases anteriores. Em campo, Itália e Espanha traziam esquadrões que propunham a renovação de suas equipes nacionais. Poucas estrelas e muita entrega entre tantos jovens. 

Jorginho era um daqueles que fora desacreditado. Disseram que não teria espaço na Seleção Brasileira. Hoje é ídolo na Itália, perda lamentável para o Brasil. 

Na última cobrança de pênalti, Jorginho mostrou a frieza de quem caminha para escrever seu nome na história do futebol. Foi brasileiro na alegre corridinha com salto, italiano na precisão e impassível como os maiores craques. 

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Dedico esta coluna ao meu Jorginho, que completa sua sexta volta em torno do sol nesta segunda-feira, 12. Voa, Jorge!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 09 de julho de 2021.