Está tudo pronto para a grande final da Copa Intermunicipal de Futebol da Região do Vale do Rio do Peixe. O selecionado de Uiraúna vem forte na edição deste ano e promete surpreender com a inédita conquista invicta do título sobre o time do município de Joca Claudino. No caminho até a final, a equipe patrocinada por Seu Manoel, proprietário do Baratão, atropelou os adversários de Catingueira, Poço José de Moura, Olho d’Água Sêco, Luís Gomes e Major Sales.
A equipe vem escalada com os maiores talentos do futebol amador do Alto Sertão paraibano, com destaque para alguns nomes profissionais, como o goleiro Dida. Não aquele do Corinthians, Milan e Seleção Brasileira, mas o Dida que atuou como terceiro goleiro do Atlético de Cajazeiras na última edição do Campeonato Paraibano. Apesar de não ter participado de nenhuma partida no profissional, o arqueiro da seleção uiraunense impõe respeito e usa a braçadeira de capitão da equipe com o status de ídolo.
Além de Dida, estão escalados como titulares para o time de Uiraúna: Léo Bolão, Dilson Xerife, Todo Feio e Chupeta na defesa; Zico Bala, Canudo, Pilombeta e Carlos Eduardo no meio; fechando o ataque mortal do selecionado sertanejo compõem a equipe uiraunense Arroz, e o craque Dico Pitôco.
O que a torcida presente à beira do campo prestes a presenciar um feito histórico não imagina é o quanto lutou Seu Manoel do Baratão para que estes jogadores, com ares de favoritos, chegassem até aqui.
Seu Manoel sempre sonhou com um título de futebol. Ainda na juventude tentou a carreira de jogador. Não conseguindo espaço nas categorias de base do Trovão Azul, em Cajazeiras, tampouco do Dinossauro, em Sousa, se aventurou por times menores, pulou de campo em campo passando por Pombal, Patos, subindo em direção ao Brejo, até que conseguiu uma vaga como reserva na Perilima, em Campina Grande. O jovem Manoel sonhava em um dia poder levantar um troféu.
Perna de pau que era, não vingou como jogador. Mesmo que fosse bastante disposto em campo, era tão atabalhoado que parecia até ser inimigo da bola.
A vida seguiu, a idade chegou, e o sonho de levar para casa uma taça de campeão permanecia vivo. Foi aí que Seu Manoel, hoje empresário do ramo supermercadista, resolveu então patrocinar um time. Nas contas dele, a premiação da competição cobriria os gastos. A equipe vencedora da Copa Rio do Peixe leva uma moto 0 km no valor de R$ 5 mil. Assim o dono do Baratão pensou que poderia bancar o time, tirar o investimento e ainda exibir a conquista em seu estabelecimento.
O troféu também não era qualquer coisa, não. Veio da capital, confeccionado pelas lojas Rei dos Esportes. Uma senhora taça! Só de bater o olho Seu Manoel já imaginou como ela ficaria bem colocada em seu mercado, protegida obviamente por uma redoma, com instruções para os visitantes que quisessem tirar foto ao lado do reluzente objeto.
O que Seu Manoel não fez direito foi as contas para a conquista. Saiu contratando sem pôr na ponta do lápis. Sem dúvida eram aqueles os maiores talentos da região, e assim como no papel e nas etapas anteriores, confirmaram a conquista do título.
Enquanto a população vibrava e os funcionários do Baratão comemoravam em êxtase com grades e mais grades de cerveja gelada, Seu Manoel chorava. A conta dos jogadores acabara de chegar, passando dos R$ 9 mil. Tirando o valor da moto, a diferença da dívida era o valor do troféu, para o qual o empresário olhava sempre com uma ponta de orgulho e outra de dor no bolso.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 13 de agosto de 2021.