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ESPORTES: Salvem o Botafogo!

publicado: 30/10/2020 11h05, última modificação: 03/11/2020 11h07

tags: botafogo , botafogo da paraíba , belo , felipe gesteira


Lembro-me do meu tempo de redação do jornal A União que os dias de jogos do Botafogo eram marcados pela vibração do colega Wellington Sérgio, repórter de Esportes que torcia tão efusivamente para o Glorioso, do Rio, quanto para o Belo - “exótico e sensual”, nas palavras dele -, da Paraíba. E declarava seu amor aos dois clubes sem nenhum receio de ser retaliado pelos torcedores mais fervorosos do alvinegro da estrela vermelha. Ele dizia que errado era torcer para Flamengo e para o Botinha Veneno ao mesmo tempo, mas no caso dele, os homônimos são “pai e filho”. Assim é ‘permitido’ torcer para os dois. 

A memória veio à tona ao perceber, diante do noticiário esportivo, que tanto o “pai”, quanto o “filho”, enfrentam graves crises administrativas. Em ambos os casos, há tentativa de protecionismo às gestões nos moldes tradicionais, em que mandam os cartolas, chamados de “benfeitores”. 

No lado da Paraíba, a torcida cobra maior abertura dos dirigentes e participação dos sócios-torcedores na política do clube. Da forma como está, são poucos os que têm direito a voto. As decisões acabam caindo nas mãos das mesmas pessoas, e até quem foi banido do futebol aparece para influenciar. O clube e sua torcida são muito maiores do que estes senhores que se alternam como gestores. 

No Glorioso, a crítica ficou mais intensa nos últimos dias por conta do projeto para transformar o Botafogo em clube-empresa. O tema é espinhoso para qualquer time brasileiro, mas o carioca ganhou os holofotes porque a proposta estava muito próxima de sair do papel. 

Quem botou a boca no trombone e denunciou que o projeto teria ido por água abaixo foi o youtuber Felipe Neto, botafoguense e dono da maior audiência do país na internet. “O projeto era claro: juntar em torno de 250 milhões com investidores, usar para sanear as dívidas do clube (praticamente zerar a dívida com negociações à vista) e ainda sobraria recursos para investir no futebol. Criaria a gestão profissional. CEO, board, diretores, etc. O projeto era incrível, colocaria o clube em outro nível. Ainda por cima, o exit [saída] pros investidores era fácil: deixaria o clube em situação de ponta e ofereceria a gigantescos investidores internacionais.”

Este foi apenas um trecho da longa publicação do youtuber em seu perfil no Twitter. O texto inteiro traz informações detalhadas com nomes de investidores, valores e, principalmente, a decisão de se investir em um centro de treinamento no lugar de ajustar as contas do clube e transformá-lo em empresa. 

Em outra publicação, Felipe Neto havia dito que não há outro caminho para salvação do Botafogo. “Situação do Botafogo é drástica. Sem o projeto da S/A, não há qualquer esperança de uma real sobrevivência do clube. Eu estive ali dentro e vi de perto os projetos e possibilidades. Hoje, caminham pra Recuperação Judicial sem saberem nada sobre isso. É aterrorizante". 

O que chama atenção conjuntamente, seja no Botafogo daqui ou no de lá, é o grande esforço que dirigentes fazem para manter o controle sobre algo que não é deles. E isso não é coisa que só acontece nos botafogos. É cena corriqueira de bastidor em quase todo clube brasileiro. Aos cartolas, digo: deixem os clubes em paz! E a quem realmente interessar, seja da Paraíba, do Rio, ou de onde for, me uno ao coro da torcida: salvem o Botafogo!

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 30 de outubro de 2020.