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ESPORTES: Segundo melhor do mundo

publicado: 27/11/2020 08h00, última modificação: 30/11/2020 11h01

Correu por todo o estado de Alagoas na última quarta-feira do mês de novembro de 2020 a notícia de que havia morrido o segundo melhor jogador de futebol de todos os tempos. O argentino Diego Maradona foi, para muitos, o maior. Para os alagoanos, só não jogou mais do que Jacozinho, ídolo do CSA. 

Era a festa de Zico, e tinha tudo para ser o jogo da vida de Jacozinho. A partida festiva marcava o retorno de Zico ao Flamengo. Do outro lado estavam craques do futebol mundial, como Maradona, vestindo camisa semelhante à da Seleção Brasileira, em que representavam o time “Amigos de Zico”. As estrelas de verde e amarelo eram comandadas por ninguém menos que Telê Santana, técnico do magistral elenco Canarinho de 1982. 

Os deuses do futebol não estavam para brincadeira naquele 12 de julho de 1985. Arquitetaram nos céus para que o destino de um nordestino fosse mudado ali, diante de um Maracanã lotado. Há quem diga que Jacozinho nem deveria estar no time, pois sequer era amigo de Zico àquela altura. Entrou, sabe-se lá como. Trabalho de empresários? Pode ser. Prefiro acreditar no divino, no imponderável, pois este aspecto combina mais com o deus que estava em terra durante a partida. 

Minutos antes do jogo, os dois chegaram a ser apresentados. O repórter Márcio Canuto fez as vezes de Hermes, o mensageiro. Deu um tapinha nas costas do argentino e disse: “Maradona, este aqui é o Rei do Nordeste”, se referindo a Jacozinho. 

O craque alagoano passou parte do jogo no banco. Resignado. Feliz por estar ali, vivendo aquele grande evento. Até que Telê o chamou para entrar no lugar de Falcão. Seria a substituição do Rei de Roma pelo Rei do Nordeste. 

As pernas de Jacozinho tremiam. Tanto que ele fazia força para manter-se de pé. Tremiam a ponto de chamar a atenção do treinador. Como bom nordestino que não foge de desafio algum, Jacozinho estava disposto a ir, com medo mesmo. Telê perguntou se estava tremendo de nervoso, e ele prontamente respondeu: “Não, professor! É que no Nordeste a gente aquece assim!”.

Em campo, Maradona e Jacozinho se encontraram. É impossível dizer se foi o argentino que viu o alagoano se infiltrar e lançou a bola, ou se Jacozinho foi agraciado pelo lançamento do deus do futebol e acompanhou seu pensamento. Quem teve a ideia primeiro, pouco importa. O gol de Jacozinho após passe divino de Maradona foi daqueles lances que retratam uma simbiose, como se duas mentes estivessem conectadas para um único desfecho. 

Ali, após o gol, não existia mais Flamengo. Os 110 mil torcedores presentes no Maracanã gritaram juntos o gol de Jacozinho. Maradona correu para abraçar o companheiro. Festa inesquecível. 

Maradona era incrível dentro de campo. E se apenas dentro das quatro linhas houve quem jogou mais do que ele, no conjunto enquanto ídolo, Maradona foi insuperável. Gênio, defensor da liberdade, lutava incansavelmente contra a pobreza e a desigualdade. Sonhava construir um mundo com mais justiça social. 

Posso assegurar que de onde estiver, na sua condição de divindade, Maradona nem faria tanta questão de ser posto abaixo de um nordestino. Enquanto a discussão sobre quem jogou mais fosse em torno de Pelé, ou mesmo dos badalados craques desta nova geração, Maradona não arredaria o pé. No entanto, daria um sorriso largo ao ouvir que melhor fora Jacozinho, e lembraria daquele inesquecível dia em que atuaram juntos para colocar água no chope de Zico.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 27 de novembro de 2020.