No esporte em que os jogos são confrontos entre onze atletas de cada lado, sem qualquer advento tecnológico, é muito arriscado transparecer a soberba de que um elenco é imbatível. Mesmo que seja por um tempo, passe por boa fase, mas nada disso dura para sempre. No futebol, sobram exemplos de times que demonstraram arrogância e, depois disso, amargaram vexames.
No Brasil, dificilmente um clube supera o São Paulo no quesito soberba. O Tricolor Paulista e grande parte de sua torcida já eram arrogantes após as conquistas dos bicampeonatos da Libertadores e mundial, entre 1992 e 1993. Após o tri no Brasileirão (2006, 2007 e 2008), o clube se autointitulou “soberano”. Uma alcunha pesada, como se fosse melhor do que todos os outros. Deu azar. De lá para cá, fora a Sul-americana de 2012, acumulou apenas vergonhas. Foi tanto sopapo que pararam com essa história de soberania. A humildade chegou e talvez traga um título brasileiro.
Mas não foi só o São Paulo que se fez arrogante e passou humilhação. A máxima “time grande não cai” era proferida com muito orgulho por Internacional e Cruzeiro, outros dois famosos por serem pouco humildes. Ambos caíram, e no caso do segundo, muito provavelmente terá que passar por mais um ano na Segunda Divisão, pois as chances do time para o acesso à Série A beiram o milagre.
Um caso de arrogância regional bem típico é o Náutico, em Pernambuco. “Hexa é luxo” foi uma frase repetida por quase todo torcedor alvirrubro à exaustão, em referência ao hexacampeonato estadual conquistado entre os anos de 1963 e 1968. Também escapulia vez por outra da boca do torcedor do Timbu um bordão com um quê até de soberba de classe social: “a elite é alvirrubra”. Depois disso, o tanto de vergonha que têm passado nos últimos anos é pouco.
De soberba recente temos o caso do Flamengo. Jogou muito em 2019, ganhou quase tudo, jogou bonito a ponto de fazer até quem não era flamenguista virar rubro-negro. Daí, com o melhor futebol praticado naquele ano, acharam pouco comemorar e se diziam estar em “outro patamar”. Os deuses do futebol parece que encaram esse tipo de arrogância como se o time fosse um Titanic, com a diferença que a única vítima após o naufrágio é o ego. Dito isto, não perdoam: em 2020 o Mengão caiu na Libertadores e na Copa do Brasil.
Hoje o Flamengo ainda disputa o Brasileirão, mas joga de salto alto. O técnico Rogério Ceni, criado na escola da soberba são-paulina, fez uma lambança na entrevista após o empate contra o Fortaleza no último sábado (26). Apesar de comandar um time que briga pelo título e era muito superior ao adversário, justificou o tropeço com um autoelogio: disse que o Flamengo não venceu porque seu trabalho fora bem feito nos anos à frente do Fortaleza. De tão arrogante, Rogério não pôde admitir o empate contra um time sem olhar para o retrovisor.
Outro treinador brasileiro com autoestima em excesso é Renato Gaúcho. Chega a ser exemplo de ‘marra’ no futebol, e caiu do cavalo contra o Santos de Cuca, um treinador também vitorioso e mais humilde. Renato dizia que o seu Grêmio tinha o “melhor futebol do Brasil”. Além de engolir o placar de 4 a 1 na Vila Belmiro, virou piada nas redes sociais.