Está difícil encontrar um eleitor do atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Eleito com mais de 57 milhões de votos, equivalente a 55% dos votos válidos, dez milhões a mais que o seu adversário no segundo turno, Fernando Haddad, e mesmo assim, com tamanha vantagem, é difícil hoje em dia achar alguém que admita ter votado em Bolsonaro nas eleições de 2018.
O fenômeno vem sendo registrado desde os primeiros atos de seu governo, suas declarações tresloucadas, as maldades praticadas contra os mais pobres, os direitos adquiridos ao longo de anos sendo subtraídos, e ainda as vergonhas internacionais que o presidente nos faz passar. Como se fosse pouco, a realidade do brasileiro mudou de perto, e todas as promessas milagrosas caíram por terra logo de cara. Preço do dólar, preço do gás. As mentiras sendo desmascaradas e o orçamento do cidadão que acreditou em seu discurso cada vez mais apertado.
Após pouco mais de um ano de governo, com crise econômica causada pela má gestão no Palácio do Planalto e ainda uma crise de saúde pública em que devem morrer milhares de brasileiros nos próximos dias em decorrência do novo coronavírus, Bolsonaro está tão desgastado que não consegue sequer ter força política para trocar um ministro de seu governo. Tornou-se como presidente o velho bufão que era como deputado, um paspalho que fala o que quer, mas que ninguém dá ouvidos.
O responsável pela pasta da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já disse que a população deve seguir as orientações dos governadores e ficar em casa. O isolamento social é a forma mais eficaz de se evitar a disseminação do vírus, mas o presidente da República, criminosamente, tem incentivado o fim do isolamento e proposto que as pessoas retomem suas vidas, apesar da pandemia mundial e das recomendações da Organização Mundial de Saúde, de cientistas e infectologistas do mundo inteiro.
Com tanto desgaste na sua imagem, os últimos eleitores de Bolsonaro sumiram. Restaram apenas os fãs, aqueles capazes até de fazer jejum religioso caso o presidente conclame.
Hoje, Bolsonaro repete um efeito semelhante ao do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Onde estão os eleitores de Collor? Quem votou em Collor? Ninguém sabe, ninguém viu. Mas ele ganhou, não foi? Seus eleitores têm vergonha do voto. Ninguém que participou daquela eleição e votou no vencedor quer falar sobre o assunto. Bolsonaro é o novo Collor. Apesar de ele dizer que ganhou a eleição no primeiro turno, se fizerem uma recontagem a preço de hoje, não passaria nem pro segundo.
O exemplo mais próximo que tive de um bolsonarista arrependido foi um amigo que assumiu o voto no presidente, mas a vergonha é tanta que não consegue completar o relato com todas as palavras. “Eu votei no Paulo Guedes”, disse ele. O atual ministro da Economia nem candidato era, não aparecia na chapa, não tem cargo eletivo. Dizer que votou no Guedes é o mesmo que justificar o voto contra Lula, contra o PT, a favor da Lava Jato. Foi ódio de classe, conservadorismo aflorado, o que for. O que esses bolsonaristas precisam é assumir, mesmo que internamente, que em algum momento se viram representados na pessoa daquele candidato misógino, homofóbico e apoiador da ditadura que, mesmo espalhando fake news, nunca enganou ninguém. Você que foi às urnas no segundo turno de 2018 e não votou em Haddad, branco ou nulo, votou em Jair Bolsonaro.