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Garfaram o Sousa

publicado: 24/05/2024 11h51, última modificação: 24/05/2024 11h51

Prefiro pensar que não existe manipulação de resultados no futebol. Digo do privilegiado ponto de vista do espectador. Para quem assiste à partida, cogitar que algo ali está combinado para além dos limites desportivos é absolutamente brochante. Nem tem graça torcer só de pensar que o final está arranjado. É tão ruim quanto assistir à reprise de um jogo já sabendo qual foi o resultado. Não, engano meu. Pensando bem, acompanhar uma partida manipulada é até pior. E independentemente da disputa em exibição ser ou não manipulada, o mal da suspeita que ronda o esporte estraga a graça como um todo. Imagine estar numa relação na qual não há confiança plena entre as partes? Não há amor que resista. Desse jeito o torcedor esfria. Por isso é tão importante combater esse mal, e deve ser enfrentado por todos aqueles que amam o esporte.

Dito tudo isto, lamento profundamente o que vem a seguir: garfaram o Sousa.

O Dinossauro do Sertão vem fazendo a melhor campanha de sua história. Gigante. Título estadual e vaga inédita na terceira fase da Copa do Brasil após eliminar outro gigante do futebol brasileiro, o Cruzeiro.

Dia 1o de maio, na partida de ida contra o Red Bull Bragantino, a disputa terminou em 1 a 1. Quem não assistiu ao jogo e viu só o placar pode encarar o resultado como normal, principalmente porque seria possível vencer na volta, lá na casa do time paulista. Mas olhando de perto, não foi nada justo. Um pênalti não marcado mudou a história de um jogo que não deveria ter acabado empatado. O Sousa é tão forte no Marizão que foi preciso apelar.

No meio do caminho, um novo golpe duro contra os sertanejos. Dia 18 de maio, em partida pela Série D do Campeonato Brasileiro diante do Santa Cruz-RN, um pênalti marcado contra o Sousa completamente descabido, assombroso, cabuloso a ponto de nem os jogadores favorecidos terem entendido. Numa disputa de bola sem choque, o árbitro puniu o cabeceio do defensor na bola.

Na semana seguinte, terça-feira, o Sousa tombou frente ao Red Bull Bragantino no jogo de volta. Uma análise fria pode dizer que os pênaltis não mudariam a história. Nos jogos pela Copa do Brasil, acrescendo o pênalti no jogo de ida, o resultado da soma dos dois jogos ainda seria desfavorável ao time paraibano; da mesma forma pelo Campeonato Brasileiro, subtraindo o pênalti absurdo, o Santa Cruz ainda teria saído com a vitória.

A questão em torno da manipulação de resultados e de suas nuances perversas é que futebol não é um esporte de simples somatório de gols e pontos. Uma falta, um pênalti, um lance arbitrariamente  conduzido em prol de interesses escusos pode mudar a história da partida. Quem se vê roubado em campo sente-se devastado. É difícil sacudir a poeira ao se deparar com a realidade de que não se está enfrentando apenas o time adversário, mas uma estrutura por trás dele que age com métodos antidesportivos.

O Sousa saiu da Copa do Brasil, segue na Série D do Brasileirão e, seja qual for o resultado, terminará o ano maior do que começou. O Sousa é muito maior do que um árbitro, maior do que qualquer esquema nefasto. Roubaram o Dinossauro? Espero que não, mas é difícil acreditar que não. Sigo torcendo, agora pela justiça e pela vitória.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de maio de 2024.