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Iludido esperançoso

publicado: 19/07/2024 09h57, última modificação: 19/07/2024 09h57

por Felipe Gesteira*

Ariano Suassuna dizia que pessoas otimistas são ingênuas, enquanto pessimistas, para ele, são criaturas amargas. Considerava-se um realista esperançoso. Seguindo a linha de pensamento do mestre, o que dizer do torcedor brasileiro no futebol? Aquele torcedor do Vasco da Gama, crédulo que o time jamais cairá novamente de divisão; ou o torcedor do Botafogo, que novamente começa a vibrar pelo título da Série A; sem falar do torcedor do Santos, que não engoliu a derrocada; e ainda o do Palmeiras, que não admite seu clube como dependente de patrocinadores para conseguir êxito.

Eu digo que todo torcedor é um iludido esperançoso. Otimista muitos são, mas os fatos são tão escancarados que desarmam qualquer ingenuidade. Muitos também são pessimistas, e assim se corroem em meio a tanto amargor, deixando de torcer. Quem se mantém torcendo não pode ser realista, ou o gosto se esvai. Para torcer é preciso iludir-se.

Como todo torcedor do São Paulo, foi grande a ilusão no anúncio da contratação de James Rodríguez. Craque na Copa do Mundo de 2014, com passagens por Real Madrid, Bayern de Munique.. e ainda que as últimas temporadas não tivessem sido lá muito brilhantes, trata-se de um jogador de patamar superior à média em atuação na elite do futebol brasileiro, tanto que é titular incontestável na seleção da Colômbia.

A última vez que me iludi assim foi com a contratação de Adriano Imperador, por empréstimo. Ele veio bichado, se recuperou no São Paulo e entregou tudo. Pena que por pouco tempo. Ainda que tenha sido uma passagem sem títulos, mas com grandes exibições. Até gol de mão o atacante fez. Desta vez, com James, sonhei viver a mesma ilusão que tive com Adriano, de um sonho realizado.

Com James, até aqui, nem um lampejo sequer de toda a genialidade guardada. Fez algumas partidas, mas jogar a bola que sabe, nunca jogou. E para quem dizia que ele havia desaprendido, veio a Copa América para desmentir. O colombiano foi decisivo para levar sua seleção à final, eleito o melhor jogador da competição. Brilhou muito, ficando à frente de jogadores como Vini Jr., do Brasil, e Lionel Messi, da Argentina.

O meio-campista tem contrato com o Tricolor até junho de 2025. Infelizmente, parece não ter mais clima para jogar pelo clube. Ficou evidente que ele não entrega tudo quanto pode. Há quem diga que o time não foi ‘armado’ para ele. Duvido muito. Mais parece que o jogador vinha mesmo se poupando para fazer uma grande Copa América e usou a estrutura do São Paulo no intuito de se poupar e voltar ao mercado europeu.

Como se iludir não custa nada, sigo sonhando em ver o craque colombiano jogando muito pelo São Paulo, resolvendo todas as pendências na relação e fincando sua posição como titular no time. Um camisa 10 clássico assim é bonito demais de se ver jogar.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de julho de 2024.