O técnico Fernando Diniz finalmente tem um título de expressão para chamar de seu. Para quem despreza a importância dos estaduais somente com o intuito de tirar o brilho da conquista do treinador e mantê-lo sob a alcunha de “emergente” até que conquiste um nacional, basta perguntar aos derrotados se o Carioca vale alguma coisa ou não. Aposto que Flamengo, que ficou no cheirinho, ou Vasco, pelo caminho, gostariam de ter mais uma taça na estante. Botafogo, então, nem se fala.
Eu mesmo já cornetei muito Diniz durante sua passagem pelo São Paulo. Por lá ele quase foi campeão brasileiro. Conseguiu abrir incríveis 15 pontos de vantagem no segundo turno e deixou tudo escapulir por entre os dedos após perder o elenco. Olhando para trás, sob a luz dos fatos de hoje, não dá para saber se o mal plantado ali era por culpa de Diniz ou de Daniel Alves.
Mas independentemente de sua competência como treinador, o torcedor que tem seu time comandado por Diniz vai do céu ao inferno como se Deus e o Diabo jogassem pingue-pongue e a bola fosse o destino do clube. Quando dá certo, é o paraíso na Terra: fica todo mundo aplaudindo, parece futebol europeu, torcida se anima pro jogo seguinte; quando dá errado é o próprio inferno, famoso salve-se quem puder.
Sinceramente, falando agora como torcedor, não queria Diniz de volta. O toque de bola dentro da pequena área para valorizar o passe é lindo quando há segurança por parte da defesa, mas quando dá errado o desastre se torna um prato cheio para o time adversário. Gosto de zagueiro sério, da linha do paraibano Durval, que nem risadinha pra piada besta sabia dar e mal podia ver a bola dentro da área que já chutava pro mato. Não à toa fez história por onde passou, sendo recordista de conquistas estaduais.
Não gostar do estilo de Diniz é uma coisa, agora dizer que não funciona, seria pretensão demais da minha parte. Não funcionou com o Fluminense durante sua passagem anterior, funcionou desta vez, no Carioca, talvez funcione no Brasileirão, talvez não funcione nunca mais. O tempo e as oportunidades que ele terá pela frente dirão.
Seja o treinador mais vencedor, emergente, professor pardal, da escola gaúcha ou até o gringo da moda, o que não dá mais para aceitar no futebol brasileiro é o técnico descartável. É preciso que todos os agentes partícipes da cultura das quatro linhas entendam como inadmissível que um trabalho seja avaliado no tempo que é hoje, a jato. E aqui entram não só quem trabalha dentro dos clubes de futebol, mas também a imprensa esportiva, que costuma chancelar demissões de treinadores por maus resultados.
Não é possível que um técnico seja contratado e demitido dentro de um mesmo trimestre. Nesse período ele mal conseguiu montar seu elenco. Sei que parece uma cantilena falar sobre a instabilidade dos cargos de treinadores no Brasil, e o caso da rescisão milionária de Vitor Pereira no Flamengo deve também servir de exemplo, pois se o clube não acredita tanto assim no trabalho do treinador, que não faça a investida.
Há quem defenda pelo menos um ano de trabalho para se avaliar a qualidade do treinador. Eu arrisco dizer que é preciso mais, sendo dois anos o mínimo necessário. Exagero? Explico. O treinador assume o trabalho com um time definido, normalmente trazendo três ou quatro reforços. Aquele elenco não foi montado por ele, mas se trabalha com o que está disponível. No meio da temporada ele contrata mais alguns jogadores, mas ali ainda há muito da base montada pelo antecessor. Somente no segundo ano de trabalho é que o novo técnico pode de fato avaliar quem da base funciona para seu estilo, quais peças trazidas se encaixaram e o que falta para fazer seu planejamento decolar.
Trocar o técnico no primeiro tropeço é entregar o elenco montado por um suposto incompetente para livrar a culpa do dirigente. Se algo dá muito errado no projeto, a culpa na verdade é de quem contrata.
Fernando Diniz está perto de completar um ano na sua segunda passagem como treinador do Fluminense. Torço para que dure mais, e principalmente para que a cultura de valorizar trabalhos diferentes e duradouros se dissemine pelo Brasil.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 14 de abril de 2023.