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Respeite as leis de trânsito

publicado: 19/04/2024 11h58, última modificação: 19/04/2024 11h58

por Felipe Gesteira*

Respeite as leis de trânsito”. A frase que parecia ter saído de uma assinatura genérica de filme publicitário ecoava na cabeça de Bruno logo após a colisão. Ele que sempre respeitara as normas de trânsito se via mais uma vez envolvido em um acidente. Nunca fora por sua culpa, mas no trânsito é preciso que todos respeitem. O estrago só não foi pior porque trafegava abaixo do limite de velocidade para a via. Foi seu primeiro “PT” em um carro, termo que se usa para abreviar “perda total”. Uma vivência para se colocar no currículo, diziam seus amigos. Certamente ele preferia nunca ter passado por isso, ainda mais com o susto de ter seu filho pequeno no banco de trás, que não se machucou porque estava devidamente preso na cadeirinha. No fim das contas foi um acidente sem vítimas. Nem mesmo o motorista que ‘furou’ a placa de “Pare” se feriu.

O mês seguiu absolutamente atípico. Dos males, o menor, pois o carro tinha seguro. Após uma saga enfrentando a burocracia entre seguradora e oficina, Bruno começa a procura por um carro novo. O termo “novo”, no caso, é para ele, pois não seria de fato um zero km, o que faz a compra ser mais trabalhosa. Na primeira visita a uma loja, o vendedor pede que Bruno leve um auxiliar de carona até o galpão, que fica a cerca de dois quilômetros, para olhar o carro de interesse. O jovem, pouco passado dos 20 anos, pede licença e adentra o carro que Bruno tem usado emprestado da sogra enquanto não resolve o problema. Do banco do passageiro o auxiliar de vendas dá play em seguidos áudios de whatsapp com o celular deitado, alto-falante direcionado para seu ouvido, porém num volume que até quem estivesse do lado de fora entenderia as conversas, que iam de conselhos profissionais a um término de namoro. Bruno quase entrou no assunto de tão peculiar que achou a cena, mas decidiu que não. Viram o carro rapidamente no galpão e voltaram para a loja. Ao entrar novamente, o vendedor novato percebeu o banco de trás e puxou uma conversa:
— Meu sonho é ter uma família e um carro assim, com duas cadeirinhas de criança.
— Criança é bom demais— respondeu Bruno, meio sem jeito.
— Meu irmão tem dois: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Será que não é sequelado por futebol?
— Tá danado!
— São gêmeos, têm três anos. Como vai ser quando crescerem?
— Vão disputar pra ver quem joga mais! — disse Bruno, em tom como se fosse óbvio, e o passageiro desatou a falar.
— É mesmo! Gosto demais de jogar com eles. Meu irmão diz que eu nem preciso ter filhos, pois já tenho eles. E na minha família todo mundo é assim, tem nome a ver com futebol. O do meu irmão é Romário. Agora por que danado o meu não é Bebeto?
— E qual o teu mesmo?
— Mateus. Nada a ver, né? Será que minha mãe pegou ar?

Bruno pensou que poderia ser homenagem a Lothar Matthäus, craque alemão campeão da Copa de 1990 e contemporâneo de Romário. Mas enquanto viajava no tempo e na teoria, chegaram ao destino. Não fosse tão curto o trajeto, a conversa teria rendido. Deu seta, estacionou e disse apenas “sei não, acho que não”.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de abril de 2024.