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Vini Jr. maior que Neymar

publicado: 03/05/2024 09h05, última modificação: 03/05/2024 09h05

por Felipe Gesteira*

Com quantos gols se constrói um ídolo? A métrica utilizada pelos defensores de Neymar quando confrontados pela simples ideia de que Vini Jr. seria maior do que ele como ídolo da Seleção Brasileira é a maior prova de que a sombra de um novo ídolo dói naqueles que defendem a hegemonia do ex-menino Ney, considerando apenas seus números. Além disso, prova também que eles não entendem de que é feito um ídolo.

Tanto não sabem porque nunca foram. Neymar, se um dia foi ídolo, alcançou essa marca pelo Santos. Saiu cedo do Brasil, fez história no Barcelona, conquistou títulos importantes em outro  clube grande, o Paris Saint-Germain, mas por onde passou, não deixou sua marca como ídolo. No time espanhol, mesmo com todos os títulos conquistados, fazendo parte do histórico ataque MSN (Messi-Suárez-Neymar), ele não era ídolo. Ídolos no time eram Messi, Xavi e Iniesta. Neymar ali era coadjuvante.

Saiu da Espanha para o maior time da França na ilusão de que seria a grande estrela da equipe. Para decepção sua e dos seus, nunca alcançou o patamar de Kyllian Mbappé. Neymar novamente foi importante para a conquista de títulos, mas nunca lembrado como ídolo pela torcida.

Há quem diga que sua conduta fora de campo atrapalhou a carreira. Talvez. Mas são as críticas à postura do jogador dentro de campo que derrubam a tese. Na Europa, Neymar é visto pelos torcedores como um jogador que cai muito. Também é verdade que ele acaba sendo muito perseguido, mas as vezes em que caiu com excesso de drama causaram marcas definitivas à sua imagem. Além disso, o alto número de lesões e as ausências em momentos importantes também levantam suspeitas sobre seu compromisso como profissional. Craques de outras gerações passaram por situações semelhantes que corroboram para enfraquecer a teoria de que o extrajogo tenha atrapalhado. Romário e Renato Gaúcho tinham comportamentos muito mais explícitos que o de Neymar fora de campo, mas dentro das quatro linhas nunca foram questionados.

Não é de hoje que Vini Jr. é apontado como ídolo. Talvez porque o torcedor brasileiro esteja carente de ídolos, ou pela diferença que faz um ídolo na aproximação com a Seleção Brasileira, que tanto precisa ter a torcida de volta. Numa pesquisa divulgada há exatamente um ano pela AtlasIntel, Vini Jr. já era apontado pelos entrevistados como maior que Neymar na Seleção. E olhe que lá no fim de abril de 2023 ele não tinha no Real Madrid a presença de líder que tem hoje, assim como Neymar ainda não havia iniciado seu processo de aposentadoria indo jogar em ligas menores.

O que Vini Jr. tem de sobra e Neymar nunca terá é atitude. O atacante do Real Madrid chama para si a responsabilidade, fazendo a diferença dentro de campo não só com gols e assistências. Sua presença muda o jogo. É a atitude na partida que faz dele ídolo do Real. Da mesma forma, é sua atitude na luta contra o racismo, dentro e fora de campo, que faz Vini Jr. um ícone do futebol internacional.

Considerando apenas números, falta muito para que Vini Jr. alcance Neymar. É possível que nem consiga. No entanto, já a preço de hoje, ele se porta como maior. Se conseguir a Bola de Ouro nunca conquistada por Neymar e ainda conduzir o Brasil à conquista de uma Copa do Mundo, Vini Jr. se igualará ao mesmo nível dos inesquecíveis. Neymar, passará.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 03 de maio de 2024.