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Viva alma mais honesta

publicado: 26/01/2016 12h13, última modificação: 26/01/2016 12h13
Texto publicado na coluna da página 18, em 26.01.2016

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou as redações dos jornais de todo o Brasil em polvorosa na quarta-feira da semana passada ao declarar, em entrevista coletiva concedida a “blogueiros progressistas”, na sede do Instituto Lula, que não há uma viva alma mais honesta que ele. Lula convidou os jornalistas para se defender de acusações de corrupção.

Jornais adoram frases de efeito. Daí Lula, investigado até a tampa desde a Ação Penal 470, o famoso escândalo do Mensalão, mas nunca envolvido em caso algum de corrupção, vem diante de jornalistas e solta uma dessas, é prato cheio. Mas duas coisas passaram batido dos jornais.

A primeira foi divulgada pelo próprio site do Instituto. Por que só blogueiros “progressistas” participaram da conversa. Eu mesmo, como progressista que sou, entendo a importância de se garantir a participação dos conservadores em todos os espaços possíveis. Ali não houve cerceamento, mas limitação da liberdade de imprensa.

No discurso, Lula atacou jornalistas. Essa também passou batido. Muito mais grave, deveria ter ocupado os títulos em vez da “viva alma mais honesta”. Lula disse estar indignado com as mentiras divulgadas na imprensa contra ele e sua família, e avisou que vai processar, caso por caso, sempre que seus advogados entenderem que cabe processo. A parte grave é que os alvos do ex-presidente da República não são as empresas de comunicação, mas os jornalistas.

Jornais, como sempre, querem vender. O que mais chama a atenção do cidadão que anda indignado com o PT, Lula se autoproclamando honesto ou Lula tentando coagir jornalistas? Ele está certo em processar, exigir direito de resposta, mas das empresas, nunca de repórteres autores das reportagens. Até uma matéria ser publicada o texto passa por várias pessoas, em um processo de produção que, se não fosse autoral, seria industrial.

Ameaçar jornalistas e atacar de morte a liberdade de imprensa no país. Se há ou não uma viva alma mais honesta que Lula, só o tempo dirá. Mas, assim como Dilma, o petista anda dando golpes de direita.

Terceira via

Em oito anos de mandato Lula conduziu o Brasil rumo ao desenvolvimento. Estabilizou a economia, promoveu crescimento, retirou milhões de brasileiros da pobreza. Também foi Lula quem cometeu vários erros na política econômica a longo prazo, e reproduziu equívocos de gestão implantados por seu antecessor tucano, Fernando Henrique Cardoso. Muito disso estamos colhendo hoje, dos acertos e dos erros.

A mais de dois anos de antecedência das próximas eleições presidenciais, a imprensa já começa a colocar Lula como o sucessor de Dilma. Seriam, no mínimo, caso vencesse em 2018, 20 anos ininterruptos de gestão por um só partido. Mesmo que tivessem errado pouco, isso não faz bem a democracia nenhuma. Ao projetar Lula como pré-candidato a imprensa inicia seu processo de fritura, rezando fervorosamente para que ele seja citado em algum escândalo. Ótimo mote para vender jornais.

Não podemos dizer que a antecipação é golpe midiático porque o próprio ex-presidente também se coloca novamente como presidenciável. Já disse em várias entrevistas que não abre mão de defender os avanços conquistados pelos governos do Partido dos Trabalhadores.

Ciro não é opção

A alternância de poder é necessária. Por mais que milhares votem no PT no segundo turno só para não votar no PSDB, ou ainda com a justificativa de “menos ruim”, ou “melhor ele (ela) que um tucano”, não podemos nos contentar com isso, e o País precisa de uma terceira via. As que se apresentaram até hoje nas últimas eleições ou não têm força, caso de Eduardo Jorge e Luciana Genro, ou estavam amparadas por mais do mesmo, como Marina Silva.

Eduardo Campos era uma terceira via, o perdemos. Agora a imprensa começa a projetar Ciro Gomes como alternativa à gangorra que se instalou entre dois partidos desde a redemocratização. Ele chegou no PDT, enxotou Cristovam Buarque e quer ser presidente no vácuo da crise de imagem do PT. É bom lembrar, Ciro transitou como ministro entre os dois lados, duvido muito que represente algo realmente novo.

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