A celebridade, digo, a paraibana, digo, a ex-BBB, digo, a advogada, digo, a cantora, digo… Juliette. Ponto. Dificilmente você, sendo do Brasil, não ouviu este nome ao menos uma vez desde 25 de janeiro de 2021. Pois bem. Inúmeras capas de revistas, entrevistas, sessões fotográficas e publicidades depois, Juliette fez seu debút musical na última quinta-feira, 02 de setembro, com o lançamento de seu EP homônimo. Os mais de 200 mil pré-saves no Spotify, um novo recorde de estreias nacionais, já anunciavam o estrondo que estava por vir. Em apenas 24h, o EP foi tocado cerca de seis milhões de vezes apenas na plataforma de streaming.
Antes de falar sobre o trabalho em si, algumas coisas eu gosto sempre de ressaltar (ou exercitar meu improvável potencial de advogada): desde o Big Brother Brasil, a campinense cantava para espantar os males e falava da música como algo sempre presente em sua vida. Ao mesmo tempo, comentava que precisaria de muitas aulas e muito foco antes de, quem sabe, pensar em seguir carreira musical. Mal sabia ela que seu lado artístico já estava sendo evocado por uma grande parcela dos fãs e da indústria. Antes mesmo de ser eleita vencedora do programa, contratos com gravadoras aguardando sua assinatura, convites para shows ao vivo e até mesmo, revelou Anitta na semana passada, um EP prontinho que aguardava apenas a voz da vencedora.
Dito tudo isto, ‘Juliette’ é um trabalho de realização pessoal e, sim, de oportunidade -- e essa tem sido a turbulenta rotina da artista nos últimos quatro meses. Vou trazer para mim o impossível comparativo: é surreal pensar que eu, enquanto mulher que gosta de cantar (e, veja, não “cantora”) pudesse ter a oportunidade de 1) dividir o palco com Gilberto Gil em minha primeira apresentação ao vivo e, 2) ter um disco com selo da Rodamoinho Records, de Anitta e da Virgin Music Brasil, com direção artística de Giovanni Bianco (que trabalhou com artistas como Madonna e Ivete Sangalo), prontinho, apenas esperando minha voz (isto apenas para citar dois exemplos). Nossa conterrânea se agarrou em tudo que julgou verdadeiro e importante. Certa ela.
“Juliette” apresenta seis faixas inéditas: ‘Bença’, ‘Diferença Mara’, ‘Doce’ (para mim, a melhor música lançada até então) ‘Sei Lá’, ‘Benzin’ e ‘Vixe Que Gostoso’. Musicalmente, o trabalho não traz nada de vanguardista ou revolucionário tanto em seus arranjos musicais quanto nas composições. E essa, até onde sabemos, nunca foi a proposta. Quando ouvi pela primeira vez, instantaneamente vislumbrei as quatro primeiras faixas sendo difundidas em peso tanto nas rádios quanto nas redes sociais, com covers diversos e como trilha sonora de stories e TikToks. As outras duas, ‘Benzin’ e ‘Vixe Que Gostoso’, acho que vão pertencer às regravações de sertanejos e forrozeiros “universitários”. Não que eu seja visionária (e não sou mesmo, haha), mas foi notável o potencial comercial de ‘Juliette’. E assim vem sendo.
Numa mistura homogênea de xote, reggae e elementos do que permeia no pop brasileiro, dá para sentir ali um caldeirão de hitmakers como Anitta, Anavitória, Melim e Michel Teló. O EP se mantém neste lugar seguro: seguro com a voz de Juliette, explorando apenas um timbre e o mesmo alcance vocal; seguro com a temática das letras (à parte a primeira faixa, todas falam sobre amor ou paqueras) e rimas fáceis; seguro com o que comercialmente -- e em larguíssima escala -- faz sucesso no Brasil.
Se continuar na carreira musical, acredito que, aos poucos, Juliette queira e consiga entregar um produto que seja mais dela, com suas próprias composições, referências, gostos… Esse processo de libertação criativa acontece com quase todos os grandes, não é mesmo? Ela se tornará uma Taylor Swift brasileira? Acho difícil, mas difícil era também ser o maior fenômeno do entretenimento nacional e assim ela o fez. E que bom pra ela! Mesmo.