por Gi Ismael*
A dor e a arte, a luz e a escuridão, amor e… Você sabe. Nossa capacidade de amar anda colada com a inevitável vulnerabilidade para decepções e desilusões afetivas. Todo mundo já teve o coração partido e, apesar da regra ser clara, nunca é fácil sair ileso da dor de cotovelo. Cada um tem seus escapes e suas formas de redenção pessoal e, para Adele, isso acontece através de sua música.
Na última sexta-feira (dia 19), foi lançado o disco 30, o quarto da carreira da cantora e compositora inglesa. Segundo Adele, 30 foi construído em “tempo real” ao longo de três anos; enquanto chorava de um lado, escrevia de outro. É através do disco que ela narra todos os sentimentos que cercaram seu processo de divórcio com Simon Konecki, com quem namorava desde os 23 anos de idade, desde os momentos de solidão aos de saudade, da raiva à culpa. Derramando seu coração e intimidade em todas as faixas do disco, desde o anúncio oficial do álbum Adele deixou claro que estaria comandando e expondo sua própria narrativa.
Com um pedido oficial feito ao Spotify, Adele pediu que a plataforma desativasse a reprodução aleatória de faixas nas páginas de discos. “Esse foi o único pedido que eu fiz na nossa indústria de mudanças constantes! Nós não criamos álbuns com tanto carinho e consideração depositados nos repertórios sem razão alguma. Nossa arte conta histórias e nossas histórias precisam ser ouvidas como pretendíamos”, disse ela em sua conta no Twitter.
O retorno de Adele pedia por um evento magnífico. Desde o pronunciamento oficial sobre o lançamento do disco, a cantora deixava clara a importância do material em sua vida e o momento propício para finalmente liberá-lo para o mundo. Veio então a sincera e reveladora entrevista exclusiva com Oprah Winfrey, veiculada na CBS no dia 14, juntamente com apresentação musical no especial Adele One Night Only. Ao longo de duas horas, a artista conversou sobre seu divórcio, a maternidade, a perda de peso causada pela ansiedade e outros detalhes de sua vida pessoal.
No último domingo (21), o especial de 90 minutos An Audience With Adele foi veiculado na televisão britânica e disponibilizado na plataforma ITV. Um dos momentos mais emocionantes (e que viralizou prontamente nas redes sociais) foi quando a cantora se reencontrou com uma professora de inglês, uma inspiração de vida, segundo Adele, que ela não via desde os 12 anos de idade. Na plateia, mais do que exclusiva, estavam celebridades como Emma Thompson, Brian Cranston, Samuel L. Jackson, Emma Watson e Idris Elba.
Imagino que cada pessoa que ouça o disco mergulhada nas letras e significados deve se sentir tocada por algumas faixas mais do que por outras. Para mim foi ‘Woman Like Me’, uma das poucas canções do disco que evidencia o sentimento de raiva. “É triste que um homem como você seja tão preguiçoso / Consistência é um presente que se dá de graça e é a chave / Para sempre continuar com uma mulher como eu”, canta em um dos refrões.
‘To Be Loved’ é onde demonstra a dinamicidade da voz em um grito de desespero e talvez seja a música mais potente do disco. Mas foi ‘My Little Love’, que conta com diálogos de Adele conversando com seu pequeno filho Angelo sobre a separação, que me levou às lágrimas.
Pensei em escrever uma frase e logo me pareceu injusta: “indo na contramão dos hits de TikTok(...)”. Mas a verdade é que esse lado da música pop nunca foi o que Adele buscou. Cantora powerhouse, ela é puro sentimento e potência vocal apresentados em construções musicais em sua maioria clássicas, acompanhadas de orquestras ou apenas piano. Sem dançarinos, collants ou grandes shows de luzes (nada contra, inclusive amo), visualmente e em performance de palco ela sempre esteve preparada para ser uma diva. Mas ao contrário do que possa parecer seu cartão de visitas, seu senso de humor e sua humildade a embrulharam para que se tornasse uma das mais emblemáticas cantoras da atualidade.
Com 30, Adele deixa claro que não sai ilesa às condições humanas, mas como todo ícone, ela só cresce ao longo dos anos.