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#127 O obscuro e intrigante ‘Batman’ de Matt Reeves

publicado: 09/03/2022 08h00, última modificação: 09/03/2022 09h02
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Robert Pattinson como o Homem-Morcego: longa é ‘thriller’ e um filme de investigação ‘noir’ - Foto: Foto: Divulgação

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por Gi Ismael*

Quando a Warner anunciou que mais um filme do Batman estaria por vir, o pesado holofote do bat-sinal apontou bem nas fuças de Matt Reeves e Robert Pattinson. A improvável dupla cinematográfica formada pelo diretor de Planeta dos Macacos: O Confronto (2014), Planeta dos Macacos: A Guerra (2017) e Deixe-me Entrar (2010) e pelo astro de O Farol, Como Água para Elefantes e… Ok, não tem como: e a saga Crepúsculo, tinha muita responsabilidade nos ombros após assumir o comando do primeiro filme solo do Cavaleiro das Trevas desde a trilogia dirigida por Christopher Nolan. Depois de alguns teasers e trailers esplêndidos, a expectativa estava devidamente nas alturas. E Batman, que estreou nos cinemas no último dia 3 de março, foi além de tudo aquilo que prometeu.

O filme é livremente inspirado, entre outras tramas, no enredo do quadrinho O Longo Dia das Bruxas, publicado nos anos 1990 e sequenciado em 2021 em HQ e animação. Na trama, Gotham City vive um cotidiano repleto de corrupção e violência quase incontroláveis pela lei e ordem. É noite de Halloween quando surge um serial killer cujas vítimas são os mais ricos e poderosos da metrópole; a polícia, desesperada para conter os assassinatos, se une ao vigilante Batman para desvendar os crimes e capturar o vilão que se denomina Charada.

Esse Charada (Paul Dano) está longe de ser como o caricato personagem interpretado por Jim Carrey em Batman Eternamente (1995), de Joel Schumacher. Sob a direção de Reeves, Paul Dano investe num personagem sem rosto, monocromático e de voz e atitudes aterrorizantes. Aliás, todo o elenco e seus respectivos personagens foram um encaixe extremamente natural, perfeito. Colin Farrell desaparece não só na maquiagem especial como no andar e na fala do mafioso Pinguim; Zoë Kravitz traz uma Mulher-Gato que inspira sensualidade natural e, ao mesmo tempo, não tem essa como única característica, apresentando uma Selina Kyle crua e batalhadora; e até os papéis secundários, como o simpático Jim Gordon (Jeffrey Wright) e o cuidadoso Alfred (Andy Serkins), parecem escolhidos com esmero.

Mas nenhum deles consegue ofuscar Robert Pattinson, que, ironicamente, faz um personagem sombrio e discreto. Pattinson dá vida a um Bruce Wayne depressivo, esquisito, socialmente recluso. Moldado não pelo senso de justiça, mas sim, pela vingança abismal, é movido por uma aproximação quase militar baseada no medo e castigo. O bilionário, herdeiro, vive dentro de sua casa e bunker um sistema tão caótico quanto o de Gotham. Seus batmóveis não são de última geração e ele fica longe de ter os apetrechos high-tech do Homem-Morcego vivido por Christian Bale. Robert Pattinson suga a atenção para a tela mesmo quando não fala. Ele em si é uma charada que a todo o tempo tentamos desvendar.

E, vamos combinar, há tempos o hate em cima de Pattinson já deveria ter deixado de existir. A minha teoria é que todo grande ator ou atriz tem um Crepúsculo para chamar de seu, ainda mais no começo da carreira, qual mal tinha entrado na vida adulta. Desde sua primeira aparição mais significativa como Cedrico Diggory, em Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005) ao estrelato alcançado na saga vampírica-teen entre 2008 e 2012, Pattinson escalonou na carreira cinematográfica quando protagonizou filmes muito bem avaliados como Bom Comportamento (2017), dos irmãos Safdie, O Farol (2019), de Robert Eggers, e Tennet (2020), de Christopher Nolan. Sabemos que é necessário um calibre alto para atuar em filmes de diretores bem conceituados como estes.

Com referências aos thrillers de David Fincher como Se7en - Os Sete Crimes Capitais (1995) e Zodíaco (2007), Matt Reeves traz a obscuridade e dinamismo para a obra que, por enquanto, é o auge de sua carreira audiovisual. Batman é um thriller, mas é também um filme de investigação noir; é um excelente filme de ação, enquanto traz poucas e boas tiradas cômicas.

Até agora tentei me manter impessoal nesta resenha, mas não tem como: saí do cinema após três horas de filme querendo dar meia volta e assistir tudo de novo. Batman é mais do que o filme do ano (e eu sei que o ano só começou), ele é o melhor filme de super-heróis desde a trilogia de Nolan (na verdade, tão bom quanto. Talvez melhor, mas ainda não consigo decidir). Dois anos sem ir ao cinema e eu não poderia ter feito um retorno melhor. Valeu cada centavo do ingresso hiper-inflacionado.

Reeves não para por aí e o filme joga a deixa de uma continuação. Além disso, foram anunciados spin-offs do Pinguim e do Asilo Arkham. Batman continua nos cinemas e a estreia na plataforma HBO Max está marcada para o mês de abril.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa 9 de março de 2022.