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#132 'Turma da Mônica: Lições': Um 'coming of age' brasileiro

publicado: 13/04/2022 08h00, última modificação: 12/04/2022 09h35
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por Gi Ismael*

Tenho certeza que as crianças do bairro do Limoeiro estiveram presentes para acompanhar o crescimento de muitos de nós. Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e tantos outros personagens marcantes dos gibis da 'Turma da Mônica' nos fizeram (e ainda fazem) dar boas gargalhadas, chorar e aprender lições. Não é pouca  coisa contar histórias há mais de 60 anos, reinventando (e inventando) personagens e formatos para levar tantas aventuras ao público. Definitivamente, dois grandes acertos recentes da Maurício de Sousa Produções foi a criação da Graphic MSP há dez anos e, recentemente, a adaptação de algumas destas HQs para as telonas. 

Graphic MSP é um selo onde quadrinistas de todo o Brasil são convidados a criar histórias do universo Turma da Mônica com seus próprios estilos e roteiros. Pois bem, em 2015, os irmãos quadrinistas Lu e Vitor Cafaggi publicaram 'Turma da Mônica: Laços' e 'Turma da Mônica: Lições', duas novelas gráficas da trilogia autoral que, mais tarde, em 2015, seria completa com 'Turma da Mônica: Lembranças'. Com roteiro nostálgico e cheio de aprendizados que bebe da fonte de filmes de aventura dos anos 1980 como 'Conta Comigo' e 'Goonies',  somados ao lindo e delicado traço dos artistas, a trilogia foi um sucesso entre público e crítica (e aí, querido editor Audaci! Foi mesmo?). Em 2019, a adaptação cinematográfica do primeiro livro foi lançada, sob direção do brasileiro Daniel Rezende. Rezende é um dos mais conceituados editores do cinema contemporâneo, tendo trabalhado com Walter Salles, José Padilha e Fernando Meirelles – esta última parceria lhe garantiu uma indicação ao Oscar pela montagem de 'Cidade de Deus' (2002). Apresentando uma abordagem mais infantil à história dos Cafaggi, 'Turma da Mônica: Laços' emocionou adultos e crianças narrando o fatídico dia em que os quatro fabulosos dos quadrinhos partem numa aventura após o desaparecimento do cachorro Floquinho.

Já em 'Turma da Mônica: Lições', que chegou às salas de cinema no ano passado mas já está disponível no Prime Vídeo, a trama traz mais introspecção e reflexões aos personagens, flertando bastante com o gênero "coming of age". Mais uma vez, a adaptação cinematográfica infantilizou um tanto o roteiro e trouxe de forma óbvia nuances apresentadas sutilmente na HQ homônima – não é uma crítica negativa, até porque é bastante compreensível a escolha. Os roteiristas optaram por centralizar a história no arco principal de personagens, escanteando contextos paralelos como a Magali se apaixonando e o preconceito que Cebolinha sofre por parte até mesmo de sua professora de teatro (no roteiro dos Cafaggi, a peça é proposta pela escola e não pela turminha). 

O fan-service vem aos montes e me marejou os olhos a cada personagem que aparecia no live-action: Tina, Marina, Rolo, Franjinha e principalmente o Do Contra, melhor alívio cômico do filme. Emocionante relembrar de crianças que viveram no meu imaginário (e de milhares) por tanto tempo.

Espero ansiosa pelo encerramento da trilogia enquanto torço para que outros títulos da Graphic MSP sejam adaptados em live-action, como 'Mônica: Força', de Bianca Pinheiro, e 'Astronauta - Magnetar', de Danilo Beyruth. Mas nenhum deles me deixa tão esperançosa quanto 'Piteco': já imaginaram que fantástico a Pedra do Ingá servir de cenário para um filme, assim como Shiko fez no quadrinho? Mal posso esperar!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 13 de abril de 2022.