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#135 A química entre Elizabeth Moss e Wagner Moura

publicado: 15/06/2022 08h53, última modificação: 29/06/2022 11h12
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Foto: Divulgação

tags: iluminadas , shining girls , elizabeth moss , wagner moura

por Gi Ismael*

Em meados dos anos 1990, Kirby Mazrachi, funcionária do Chicago Sun-Times, sofre um ataque traumático, uma tentativa de assassinato que afeta por completo sua vida e existência. Sobrevivente deste feminicídio onde não se sabe quem cometeu o crime, Kirby se depara com um crime em sua cidade cujo modus-operandi é idêntico ao que sofreu, porém com desfecho mortal. Aquela parece ser a oportunidade perfeita para tentar encontrar o culpado. 

Se você gosta de histórias de crime que envolvam serial killers, ‘Iluminadas’, a nova série dramática da AppleTV+, é digna de uma maratona. Protagonizada por Elizabeth Moss (‘O Homem Invisível’, ‘O Conto da Aia’) e Wagner Moura (‘Tropa de Elite’, ‘Narcos’), a série trata-se de uma adaptação do livro homônimo da escritora e jornalista sul-africana Lauren Beukes. A série magnetiza desde seu primeiro episódio. Não é pra pouco: por si só, Elizabeth Moss encena de forma impactante seja nas telinhas ou nas telonas, e o mesmo acontece com o soteropolitano Wagner Moura. E quando duas potências se juntam nos roteiros da vida, o resultado por ser ou muito bom ou desastroso. Por nossa sorte, a química entre Elizabeth Moss e Wagner Moura é o que queremos na ficção.

Wagner Moura interpreta Dan, um repórter brasileiro que assume a matéria sobre o feminicídio de Julia Madrigal. Para quem viu o ator pela última vez na série ‘Narcos’, da Netflix, como foi o meu caso, vai sentir uma total diferença em Moura, tanto fisicamente, quanto em nuances de sua atuação como voz, postura e semblante. E é claro que o currículo de Wagner Moura mostra incontestavelmente sua multidimensionalidade cênica, porém não deixa de impressionar vê-lo dar vida a um novo personagem, desta vez um jornalista dedicado e proporcionalmente depressivo, com camadas que se evidenciam a cada episódio. 

Agora preciso confessar algo que me deixa com sentimentos mistos. Eu realmente queria ver Elizabeth Moss em um papel onde ela não sofresse tanto por ser mulher. Só quem assiste ‘O Conto da Aia’ (2017-2022) sabe o quanto a pobre June sofreu ao longo da série. No papel de Cecilia Kass, na adaptação de ‘O Homem Invisível’ (2020), ela sofre do começo ao fim do filme. Até a Peggy Olson em ‘Mad Men’ (2007-2015) não teve lá uma vida fácil. E agora vem ‘Iluminadas’, onde Kirby carrega uma dor indescritível. Não me leve a mal: Elizabeth Moss foi incrível em todos os papéis que citei, sem tirar nem pôr. Mas eu gostaria de ver algo totalmente fora dessa nuance num futuro próximo. 

Os dois vivem personagens que, apesar de diferentes, carregam segredos e solidões inerentes entre si e gradativamente edificam uma cumplicidade bastante sincera, pura. Ao passo em que trabalham juntos na pauta do serial killer, eles se entendem e se ajudam, e forçam a barra quando necessário. Moss e Moura, juntos em tela, passam essas dimensões que a trama pede enquanto dão cada vez mais profundidade aos seus papéis. 

Ficção científica, thriller, investigação, drama. ‘Iluminadas’ é um pouco de cada gênero e, durante a maioria do tempo, a série consegue manter uma narrativa bastante homogênea. Mas foi justamente essa parte “sci-fi” que não foi muito trabalhada na produção. A série traz em seu argumento um fenômeno atípico para uma narrativa do gênero, que lembra a incrível primeira temporada de ‘True Detective’, e que talvez isso tenha sido melhor explorado no livro. Mas quando os episódios passam e surgem mais dúvidas do que esclarecimentos, a narrativa se torna exaustiva. Isso fez com que ficasse realmente uma dúvida se existe ou não uma perspectiva de renovação para a série porque, ao mesmo tempo em que ela fecha ciclos ao final da temporada, a sensação não é de final aberto, mas de final incompleto. 

Estes pontos, entretanto, não estragaram a experiência para mim. A série é altamente “maratonável” e, como falei anteriormente, magnética. O mistério cresce e se desenrola com o tempo. Ah, e vale ainda mais procurar por referências ao Brasil no personagem de Wagner Moura, como um poster de Milton Nascimento em sua casa, uma camisa d’Os Mutantes, seus diálogos em português com o filho…Totalmente fan-service para a gente.

‘Iluminadas’ é uma série cujo grande potencial que não foi completamente atingido, mas passou bem perto. Um sólido 8/10. Se vier uma nova temporada, que venha costuradinha com suas teorias mirabolantes. Se não vier, foi bem bom enquanto durou. 

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 15 de junho de 2022.