Notícias

#139 ‘The Boys’: terceira temporada é do Capitão Pátria

publicado: 13/07/2022 00h00, última modificação: 13/07/2022 09h33
the-boys.png

Capitão Pátria (interpretado por Antony Starr) cada vez mais “descontrolado” na série - Foto: Foto: Amazon Prime/Divulgação

tags: THE BOYS , amazon prime video , série

por Gi Ismael*

Se você não conhece The Boys, uma das séries de maior sucesso da Prime Video, preciso te contar um pouco sobre ela. A produção é baseada nos quadrinhos homônimos de Garth Ennis e Darick Robertson, publicados entre 2006 e 2012 e conta, de forma bastante ácida, como seria de fato conviver com super-heróis entre nós, em um contexto ocidental tomado pelo capitalismo. Sabe a máxima “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” dita por Ben Parker, o eterno Tio Ben da franquia Homem-Aranha? No universo fictício de The Boys, o personagem Billy Bruto parafraseia a máxima de uma forma mais… brutal: “com grandes poderes, vem a absoluta certeza de que você se tornará um grande babaca”.

Os “supers”, como são conhecidos, são agenciados e controlados por uma empresa bilionária chamada Vought. É ela quem toma conta de toda a parte de relações públicas, gestão de crise, propagandas, filmes e missões. Não vou conseguir entrar em muitos detalhes, mas um grupo de vigilantes intitulado “The Boys” é formado para dar um freio no Capitão Pátria, um sádico, racista, misógino, fascista e tudo de pior que você puder imaginar, e sua trupe.

E não se engane: apesar do banho de sangue e das temáticas tensas como assédio sexual e nazismo, The Boys é uma série de ação e comédia (mas não na zona de conforto em que a maioria do público pode estar habituada). A adaptação televisiva, criada por Eric Kripke, roteirista e criador da série Sobrenatural, conta com três temporadas no catálogo Prime Video e já foi renovada para mais uma.

Pronto. A partir de agora, vou revelar, analisar e dar meus pitacos sobre a terceira temporada – então “esteje” avisado!

Ao final da segunda temporada tínhamos a ameaça de Victoria Neuman (explodindo cabeças) e do Capitão Pátria (cada dia mais descontrolado). Vicky sendo uma congressista e candidata ao senado, forte opositora da Vought, não por suas habilidades políticas, mas sim pela capacidade de explodir cabeças até conseguir chegar no topo de sua carreira política. Além disso, temos todo o rolo “Capitão Pátria + Becca + Butcher + Ryan”, que termina com a criança matando a própria mãe ao tentar defendê-la de Tempesta, a nazista, namorada do Capitão Pátria.

Os novos episódios trazem uma afiada e nada sutil crítica à era das fake news e lideranças conservadoras – em especial ao partido republicano norte-americano e Donald Trump. Até uma figura que lembra o “chifrudo” do ataque ao Capitólio aparece em certo momento. O Capitão Pátria é a figura central nesse movimento e, para viver um personagem tão asqueroso assim, o ator Antony Starr nunca esteve tão excelente. Sua atuação enquanto o problemático super-herói é tão convincente que é difícil desassociá-lo da figura desprezível que é o Capitão Pátria. Essa é a temporada dele.

A temporada é dele e da masculinidade tóxica – ou, como dito na contemporaneidade, dos “daddy issues”. Pais abusivos? Temos. Pais ausentes? Temos também. E essa é a origem, basicamente, de todo o mal da humanidade. Meu deus, como os homens são sentimentais.

Mas, tudo bem, nesses novos episódios o enredo traz mais dimensões a personagens como Kimiko, Francês e Leitinho de Mamãe, mas perde-se quando insiste nas mesmas piadas e enxertos envolvendo Profundo, o personagem mais chato da série. Também senti que o final de Maeve foi anticlimático, heróico demais para o tom da série.

The Boys trouxe novos capítulos excelentes, como o Herogasm (que é, inclusive, uma spin-off nos quadrinhos), e sátiras perfeitas como a reprodução da vergonhosa propaganda da Pepsi estrelada por Kendall Jenner, fazendo uma alusão de péssimo gosto a manifestações Black Lives Matter que estavam no auge. Episódios divertidos, empolgantes, cativantes. Mas o programa também deu uma volta de 360º na história: ao final da terceira temporada, temos a ameaça de Victoria Neuman (explodindo cabeças) e do Capitão Pátria (cada dia mais descontrolado).

A série continua sendo uma das minhas preferidas da atualidade, porém fiquei com um sentimento que depois de dois anos de hiato, ela merecia uma caprichada a mais no roteiro. Uma afinada de nada. Aí seria 10/10.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 13 de julho de 2022.