Notícias

#160 Para o ano de 2023, menos algoritmos e mais autonomia

publicado: 28/12/2022 00h00, última modificação: 28/12/2022 12h53
Giovanna - BeReal.jpeg

Exemplo de post do aplicativo BeReal, rede social que preza pela autenticidade - Foto: Foto: Reprodução

tags: bereal , redes sociais , instagram , algoritmos

por Gi Ismael*

Te juro, inconscientemente, eu devo ter checado meu celular umas 10 vezes antes de concluir esse texto. Me pego num ciclo vicioso com essa “bendita” extensão do meu braço. Há alguns meses, tentei diminuir o uso de aplicativos e redes sociais, mas quando se trabalha diretamente com isso, é fácil ser sugada de volta.

Mais observadora do que “postadora”, adotei técnicas: desativei notificações, ativei o contador de tempo de tela, que me diz meu consumo diário de aplicativos, e ainda assim me sinto dependente.

O Instagram é o aplicativo que atualmente mais me consome com suas novas funções, atualizações, algoritmos e informações. Não estou sozinha nessa. A cada ano que passa, sinto que mais pessoas ingressam nas redes sociais e muitas outras saem em debandada da toxicidade e dos excessos virtuais. E eu gosto da dinâmica de trocar fotos com amigos, conversar, enviar um vídeo engraçado e etc., mas me pergunto se é possível ter hoje em dia uma relação saudável com a internet enquanto plataforma social. Porque onde há vídeos, não veremos apenas vídeos de gatinhos. Vemos o gatinho, o linchamento público, o corpo do verão, a treta do reality show, o procedimento estético e a viagem “noronhe-se”.

Neste ano, um aplicativo veio com a proposta de reduzir a marcha. O nome dele já dá a dica: BeReal, uma rede social que preza pela autenticidade quando não permite filtros ou montagens de qualquer tipo e apenas deixa que o usuário poste uma foto em tempo real por dia (um salve para o Fotolog!). O resultado disso é que você tem uma linha do tempo enxuta e mais realista do que de costume: seus amigos lavando louça, brincando com o gato, num velho trabalho burocrático, e vez ou outra em um show, na praia…

A ideia foi tão bem aceita pelo público e especialistas no ramo da tecnologia que o aplicativo ganhou o App Store Awards como melhor app do ano. Uma vez por dia apenas, ele te manda uma notificação lembrando da hora de postar a foto. Depois de entrar na tela para registrar o momento (que obrigatoriamente captura imagem da sua câmera frontal e traseira ao mesmo tempo), você tem poucos minutos para o clique. Os emojis das “curtidas” são fotos reais de seus amigos. E não tem essa de ser meramente um espectador: você só pode ver as imagens de seus amigos se você postar uma a sua diária. Você tem uma rede social enxuta, crua e, o melhor de tudo, sem anúncios publicitários (por mais que investidores tenham pressionado para isso).

Acho que essas são características que me fazem sentir tanta falta do Orkut. Pode ser nostalgia, mas dá saudade da época em que só podíamos postar 10 fotos por dia, quando não éramos afogados por banners publicitários, quando a tela não tinha rolagem infinita e você mesmo desbravava por seus interesses em comunidades.

Dar uma desintoxicada das redes sociais sem se desprender totalmente do propósito delas parece ser a tendência para o ano de 2023. Fiquei contente em saber que o domínio orkut.com havia sido reativado e que o fundador do site, o turco Orkut Büyükkökten, comentou que há uma possibilidade de sua rede social voltar a ativa. E a proposta é simples: voltemos a criar conexões reais, com menos algoritmos e mais autonomia.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 28 de dezembro de 2022.