Notícias

#164 O ano de 2003 em discos

publicado: 01/02/2023 00h00, última modificação: 01/02/2023 10h55
The White Stripes.jpg

Duo The White Stripes lançou o hit ‘Seven Nation Army’ no álbum ‘Elephant’ - Foto: Foto: Divulgação

tags: 2003 , elephant , the white stripes , the strokes , room on fire , discos lançados em 2003 , haild to the thief , radiohead ,

por Gi Ismael*

Eu me dei conta de uma tradição: todo início de ano, eu busco na internet quais discos foram lançados em “X” exatas décadas atrás. Chame de costume ou escapatória para falta de pautas novas, a verdade é que eu amo fazer essas listas porque elas são a desculpa perfeita para eu me manter ouvindo os mesmos artistas do meu eu adolescente.

Em 2003, tínhamos microsystems, discmans, MTV e mIRC. Foi nesse mesmo ano que uma dupla americana de branquelos esquisitos lançava seu quarto disco e uma música em específico os faria não só furar a bolha do rock alternativo, como teria um impacto cultural sentido até hoje, 20 anos depois. Com o álbum Elephant, The White Stripes criou um hino sem sujeito direto, uma música cujo riff paira como uma nuvem carregada de distorções e, como que por osmose, sobrevoa no imaginário de milhões de pessoas ao redor do mundo. Não é exagero meu: ‘Seven Nation Army’, a faixa em questão, já foi reproduzida quase dois bilhões de vezes se contabilizarmos apenas Spotify e YouTube, plataformas muito mais novas do que a música em si.

Seja como hino em estádios durante partidas esportivas ou cânticos para comemorar o vale-night, a música estrela dezenas de listas das melhores canções do século 21 (é uma queridinha assumida da Rolling Stone) e dos riffs mais marcantes da história. Há 20 anos, Jack e Mag White lançavam a música que mudaria o curso de suas carreiras e colocaria o rock de garagem de volta aos holofotes – e eu assistia hipnotizada aquele clipe na TV de tubo da sala. Eu poderia falar de ‘The Hardest Button to Button’, ‘I Just Don’t Know What to do With Myself’ e todas as outras músicas maravilhosas do disco, mas não tem como, ‘Seven Nation Army’ preenche todo o espaço.

Também foi em 2003 que The Strokes lançava o Room on Fire. Apesar de não ter uma música tão popular como foi ‘Seven Nation Army’ para os White Stripes, o álbum fez o corte perfeito depois da levantada de bola que foi o ‘Is This It’ em 2001 (aquele sim traria uma música de furar bolhas: ‘Last Night’). Abrindo com ‘What Ever Happened’, o disco já ditava o tom daquele trabalho: abra seu peito e se “esguele” como o Julian Casablancas. Foi nesse disco que vieram as épicas ‘Reptilia’, quase tão impactante quanto ‘Last Night’, e ‘12:51’, que se tornou uma querida balada de sonoridade sujinha. ‘Under Control’ continua sendo minha predileta do disco (eu tento, mas não consigo esconder meu coração sentimental…).

E teve mais gente da tribo que grita lançando discos memoráveis em suas carreiras: Linkin Park chegava com Meteora, Yeah Yeah Yeahs trazia o instigante Fever to Tell e Pitty chegava com representatividade nordestina e feminina ao rock nacional altamente influenciado pela gringa, levando os jovens brasileiros à polvorosa com Admirável Chip Novo.

Todos esses que citei têm um lugar especial nos meus ouvidos e coração. Mas existe um que é o crème de la crème. Um ponto fora da curva em meio a tanto baixo, guitarra e bateria explorando acordes e estruturas musicais padrões. O disco Hail to The Thief, de Radiohead, é para mim a personificação de seja lá o que realmente signifique “genialidade”. Nesse ponto de sua carreira, a banda já havia mostrado a que veio e esse era o sexto disco de estúdio, chegando depois de títulos como OK Computer e Kid A. Para mim, a fase de ouro do Radiohead é justamente essa, entre 1997 e 2007 – e o Hail to the Thief estava bem no meio, com faixas como ‘2 + 2 = 5’, ‘Myxomatosis’, ‘A Wolf At The Door’, ‘Sail To The Moon’, ‘Backdrifts’, ‘Go To Sleep’ e, sim, vou acabar citando todas as músicas do disco. Todas elas, uma a uma, são quase experiências sinestésicas e merecem serem ouvidas com os melhores fones de ouvido que você encontrar.

Ainda falaria de outros álbuns lançados naquele longínquo 2003, tipo o Transatlanticism, de Death Cab for Cutie, Ventura, de Los Hermanos, Dangerously in Love, de Beyoncé, ou Come Away With Me, de Norah Jones, mas preciso manter um pouco de lógica por aqui, vocês me entendem. Para alguns que ficaram de fora dessa lista hoje, eu criei uma playlist no Spotify. Ouça:

.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 1 de fevereiro de 2023.