Em 28 de fevereiro deste ano, chegou às lojas uma versão remasterizada em 4K do clássico filme de terror O Massacre da Serra Elétrica. O lançamento veio como uma comemoração dos 50 anos das filmagens do longa de Tobe Hooper. Muito que bem: uma cópia chegou a João Pessoa semanas depois e, para a felicidade e surpresa dos amantes do gênero, o filme entrou na programação do mês de abril do Cine Bangüê! Assim como em 1987, quando o longa finalmente chegou ao Brasil mais de uma década após a sua estreia, o filme tem enchido as sessões do “cinema de bairro” do Espaço Cultural, garantindo bons sustos e risadas ao eclético público.
Tenho assistido muitos clássicos pela primeira vez e esse era um dos que eu ainda devia (da obra de Hooper, só tinha assistido Poltergeist, um dos meus preferidos do terror). Já tinha assistido a uma das muitas continuações e conhecia a história, mas, realmente, nada se compara a ter contato com o original, ainda por cima em qualidade de imagem e som excelentes.
Após o aviso de que a trama é baseada em eventos reais, o filme já começa bem grotesco mostrando vagarosamente alguns cadáveres exumados, formando uma espécie de espantalho macabro em pleno cemitério. Aquilo era só a ponta do iceberg e, quando mais na frente conhecemos a casa do Leatherface, temos contato com o açougue que era a residência.
Essa é a principal fonte de inspiração verídica do longa: Ed Gein (1906-1984) é o nome do serial killer que inspirou o Leatherface (e alguns dos outros “vilões” dos mais relevantes títulos do terror e suspense, como Norman Bates, de Psicose, e Búfalo Bill, de O Silêncio dos Inocentes). Segundo os registros, o homem tinha uma relação bastante edipiana com sua mãe e, quando ela faleceu, ele começou a exumar corpos de mulheres parecidas com ela que encontrava nos obituários dos jornais. Com os corpos em casa, Gein fazia experimentos, costurando os cadáveres, retirando suas peles e ossos e as tornando em objetos decorativos ou de vestes. Chocante e prometo que isso não é nem metade do que acontecia. A serra elétrica foi só um charme extra na ficção.
O personagem perfeito com a arma perfeita, o filme nasceu pronto para ser um clássico como os que viriam na mesma época, assim como as garras de Freddy Krueger, a faca de Michael Myers ou a machete de Jason. Obviamente O Massacre da Serra Elétrica, assim como Halloween, apresentou uma nova forma de fazer filmes assustadores e continua até hoje bastante referenciado. Enquanto eu assistia, me veio à lembrança duas referências atuais bem diretas. A primeira delas é o game Dead By Daylight, em que, dependendo do lado que você joga, é preciso ou sobreviver ou matar no melhor estilo slasher. O jogo tem Leatherface, Jason, Sadako e vários outros icônicos personagens de terror, com direito aos ganchos e geradores presentes em O Massacre da Serra Elétrica. A outra é mais recente, o filme X - A Marca da Morte, que resgata as cenas na van, o figurino curtinho próprio para o exploitation metalinguístico e a casa na fazenda.
O filme tem pouco mais de 80 minutos de duração, mas confesso que parece bem maior quando a primeira metade é bem maçante. As cenas parecem longas demais e o filme, de baixo orçamento, é cru em excesso por conta da falta de trilha sonora (que dá as caras com o surgimento do vilão). Assistir em conjunto e ouvir as risadas nos momentos datados do filme, como Sally desmaiando a vassouradas, os takes ginecológicos à lá “Banheira do Gugu”, ou ainda a tosca interação da família, ficou ainda melhor quando todo mundo caiu nos dois principais sustos do longa. Apesar de alguns furos no roteiro e cenas um tanto irritantes, o filme fica tão excelente a partir da revelação do Leatherface que é difícil voltar a colocar defeito na velocidade do roteiro e em outras questões que de início me agarrei. Na real, são essas imperfeições que tornam o longa tão fantástico. Isso e, claro, a dança da motosserra ao nascer do sol...
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de abril de 2023.