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#180 Os melhores números musicais em filmes não musicais

publicado: 31/05/2023 10h48, última modificação: 31/05/2023 10h53
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Adam Driver cantando ‘Being Alive’ em ‘História de um Casamento’ (2019) - Foto: Netflix/Divulgação

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por Gi Ismael*

O musical é um daqueles gêneros cinematográficos “ame-o ou deixe-o”. Tem gente que realmente não suporta a teatralidade ou que não compreende a necessidade de se cantar um texto ao invés de lê-lo. Digo logo que não sou uma dessas pessoas. Gosto de musicais e sou capaz de ouvir a trilha sonora de algum por meses – ou anos – a fio (foi assim com Hamilton e The Book of Mormon, por exemplo). Mas vez ou outra, uma produção que não é musical traz uma cena com dança e música que parece se deslocar da narrativa, se tornando uma das cenas mais marcantes de um filme.

Os filmes adolescentes dos anos 1980, por si só, trazem uma porção desses momentos icônicos, então bora lá relembrar os melhores. Como em De Volta Para o Futuro (1985), quando Marty McFly (Michael J. Fox) chega na formatura de seus pais no ano de 1955 e puxa na guitarra a clássica música do rock‘n’roll ‘Johnny B. Goode’, da lenda Chuck Berry (que teoricamente só viria a ser escrita em 1958). Por falar em rock’n’roll, Curtindo a Vida Adoidado e O Clube dos Cinco, ambos de John Hughes, transformaram duas músicas em assimilações diretas aos filmes: é bem difícil alguém que assistiu Ferris Bueller em cima do trio elétrico dublando ‘Twist and Shout’ não lembrar da cena, assim como é quase impossível ouvir ‘We Are Not Alone’, de Karla DeVito, e não lembrar daqueles cinco adolescentes chapados dançando na sala de detenção da escola. Ah, e a menção honrosa talvez seja uma das minhas preferidas: quando Ducky, no filme A Garota de Rosa-Shocking (1986), dubla ‘Try A Little Tenderness’, de Otis Redding, dentro de uma loja de discos de forma apoteótica. Todas essas cenas me fazem querer vivê-las.

Ainda na década de 1980, Um Cilada para Roger Rabbit (1988) entregou de bandeja a música ‘Why Don’t We Do Right’ para o sex-symbol animado Jessica Rabbit. Alguns anos depois, em 1992, os personagens de Quanto Mais Idiota Melhor (1992) expressavam com perfeição a reação de todas as pessoas que escutam ‘Bohemian Rapsody’ dentro de um carro (ou seja, cantar loucamente cada uma das frases e bater cabeça quando chega no solo de guitarra).

Mas fazer cena musical em filmes não musicais de comédia é até fácil quando o público está numa zona de conforto. Agora trazer o canto e a dança depois de um turbilhão de emoções é um tiro no escuro e quatro filmes, ao meu ver, acertam na mosca: Jojo Rabbit (2019), com a dança desengonçada das crianças, ao som de David Bowie, no final do filme; História de um Casamento (2019), com o dramático número solo de Adam Driver cantando ‘Being Alive’, do musical Company, ao final do filme; Laranja Mecânica (1971), na caótica cena de “ultraviolência” enquanto Alex DeLarge canta ‘Singing in the Rain’, de Gene Kelly, música-título do filme Cantando na Chuva (1952); e Antes do Pôr do Sol (2004), quando Celine conta a Jessie tudo o que sente através da música ‘A Waltz for a Night’ (composta pela própria Julie Delpy), relembrando aquela noite nove anos antes.

Talvez a minha preferida esteja em um filme de música, então existe uma certa “garapa”. Mas fica aqui a menção honrosa para Quase Famosos (2000) e o momento ‘Tiny Dancer’ dentro do ônibus. Com certeza, deixei várias de fora (e outras centenas nunca devo ter visto). Então se você também tem suas preferidas, criei um link no YouTube para uma playlist colaborativa. É só seguir o link e adicionar as suas. “Vamo simbora” que a vida é muito curta para a gente ficar sem cantar e dançar (até nos momentos mais dramáticos).

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 31 de maio de 2023.

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