por Gi Ismael*
Está difícil conseguir tempo para acompanhar tantas séries e filmes e jogos. Sandman, Anéis do Poder, Casa do Dragão... Não tenho dado conta. Por isso agora me chame de, no máximo, senhora minisséries. Se você está na mesma, indico fortemente Ollie - O Coelhinho Perdido, da produção original Netflix.
Com apenas quatro episódios de cerca de 40 minutos cada, a série limitada é baseada no livro Ollie’s Odyssey (Atheneum Books, 2016), de William Joyce. Feita a partir de uma obra infantil, onde ursinhos de pelúcia e bonecos são protagonistas, Ollie tinha todo o apelo para ser uma animação. Mas a escolha de trazer inserções de computação gráfica para o live action (como fizeram Uma Cilada para Roger Rabbit, 1988, e Space Jam, 1996, por exemplo), foi um dos grandes acertos da série.
Billy (Kesler Talbot) é um garotinho cujas aventuras e cotidiano são compartilhados com seu melhor amigo, Ollie (com a voz de Jonathan Groff), um coelhinho de pano. Um dia, o brinquedo acorda numa loja de penhores sem memórias do que lhe aconteceu ou onde está seu companheiro e família (Jake Johnson e Gina Rodriguez). Com ajuda do boneco Zozo (Tim Blake Nelson) e da ursinha de pelúcia Rosy (Mary J. Blige), Ollie tenta juntar suas memórias e parte numa expedição para reencontrar seu melhor amigo. É, prepara o lencinho porque se você achou Toy Story tocante, Ollie vai alugar um apartamento na sua cabeça.
Tal qual o coelhinho, a história é feita de retalhos. É secundário o quebra-cabeças a fim de descobrir os caminhos que Ollie deve seguir para voltar para casa, uma vez que os reais motivos pelos quais ele está perdido são a delicada linha de costura da trama. O primeiro episódio traz o contexto familiar de Billy e sua relação com Ollie; o segundo, a jornada em busca do lar e o resgate de memórias importantes; o terceiro é dedicado a contar a história de Zozo; e o quarto, por fim, encerra a aventura.
A classificação indicativa da minissérie é 10 anos de idade, mas, não tenha dúvidas, o público adulto é quem mais ganha com a história. Existe muita sensibilidade na forma como ela é contada, trazendo discussões sobre paternidade, adoção, preconceito e a importância de criar laços. Ollie - O Coelinho Perdido é adaptada por Shannon Tindle, roteirista do filme em stop-motion Kubo e as Cordas Mágicas (2016), e dirigida por Peter Ramsey, cineasta que garantiu uma estatueta do Oscar em 2019 graças ao seu trabalho como diretor em Homem-Aranha no Aranhaverso (2018), duas animações excelentes da década 2010. Animação, por sinal, é um outro ponto forte da série. O departamento de arte fez um belíssimo trabalho de design e de execução, tornando as transições entre animação e cenas “reais” imperceptíveis.
Ollie não parece uma produção feita para vender bonecos, como têm sido alguns spin-offs de Star Wars ou do MCU, mas o coelhinho protagonista é tão apaixonante que até um adulto vai querer uma pelúcia igual para dar todo amor e carinho que o personagem merece. Estou falando de mim para generalizar algo incomensurável? Com certeza. Escrevi essa coluna com lágrimas nos olhos e querendo assistir de novo a série? Não tenha dúvidas.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 28 de setembro de 2022.