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#153 “Quanto ele canta, tudo que é bom se alevanta”

publicado: 09/11/2022 00h00, última modificação: 14/11/2022 10h17
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Pedro Índio Negro lança, nesta semana, seu primeiro álbum: ‘Livrai-nos do Mal’ - Foto: Foto: Divulgação

tags: pedro índio negro , livrai-nos do mal

por Gi Ismael*

Lançar o primeiro trabalho solo é um rito de passagem simbólico na vida de muitos músicos. É um salto livre: enquanto dá (liberdade), também proporciona o frio na barriga de estar sozinho, mesmo que com uma importante equipe presente do treino em solo ao empurrão no ar. Com o álbum Livrai-nos do Mal, que será lançado na próxima sexta-feira (dia 11), o paraibano Pedro Índio Negro traz coesão e dinamicidade num momento divisor de águas em sua carreira artística.

O disco começa com ‘Pavão Real’, música gravada originalmente pela banda Flor de Pedra, idealizada por Pedro Índio nos idos de 2016. Mais do que a decolagem do disco, ‘Pavão Real’ é o arranque. Isso porque o rearranjo troca os acordes acústicos pela vida dos instrumentos plugados, em especial a guitarra de Rafa Chaves e teclados de Helinho Medeiros, e backing-vocals de sua irmã Manu Lima e sua mãe, Gláucia Lima. É como se o deck de baralho tivesse dado vez à beleza e simbologia do tarô. A voz de Pedro chega mais presente, a música mais vibrante e colorida – o que poderia ser um desafio tendo em vista que a duração dela foi cortada quase pela metade.

‘Dos Dois’ é outra faixa que veio dos anos de Flor De Pedra. Nunca gravada em estúdio, o único áudio já publicado (uma performance ao vivo da canção) foi removido dos streamings pela banda. Ou seja, invejo quem não conheceu a bootleg e vai ter o prazer de ter o primeiro contato com a faixa a partir desse disco.

‘Dos Dois’ é, sem tirar nem por, uma das músicas mais belas que já ouvi da geração mais atual da música brasileira e, com a licença, ela merece, no mínimo, um parágrafo próprio. Eu poderia pegar qualquer trecho da letra e lançar aqui, fazendo um jogo de versos, e o resultado sempre seria lindo. “Cantarolando coisas de nós dois”, “sobra silêncio depois de você”... Visualizo aspas por todos os cantos. O neo-soul gostoso, com um quê progressivo, foi o casamento que essa música precisava para entrar no trisal dos sonhos.

Não cabe espaço para o faixa a faixa, mas assim como ‘Pavão Real’ e ‘Dos Dois’, o disco traz canções que merecem a menção. Ao longo das oito tracks percorremos a história de Pedro com a música. Enquanto o canto evocativo ‘Uivo da Bruxa’ foi composto quando tinha 22 anos, a inédita ‘Depois do Mar’, feita em parceria com Guga e Hugo Limeira, saiu do papel três anos depois. Na minha percepção, ‘As Horas Mortas’ é a canção que mais consegue exprimir o que é o fenômeno vocal que é Pedro Índio Negro cantando ao vivo. Originalidade que traz alcance, uma coisa meio Robert Plant, meio David Coverdale.

Livrai-nos do Mal é o momento de protagonismo de Pedro Índio Negro. Colocando no mundo suas composições com os grupos autorais Quadrilha e Flor de Pedra, descobrindo novos territórios de sua voz com a graduação em canto popular pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desbloqueando o corpo no palco e juntando novas referências com a banda Funkeria, Pedro mostra quem é hoje, resgatando quem também foi. É uma excursão ancestral pelo místico, pelo amor e o espiritual.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 9 de novembro de 2022.