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#209 Oscar 2024: 'Maestro'

publicado: 28/02/2024 14h58, última modificação: 28/02/2024 14h58
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Bradley Cooper dirige, coroteiriza e protagoniza cinebio de Leonard Bernstein - Foto: Netflix/Divulgação

por Gi Ismael*

Na longa lista de indicados ao Oscar de Melhor FIlme em 2024, temos Maestro, cinebiografia dirigida, coroteirizada e protagonizada por Bradley Cooper. Seguindo a fórmula de sucesso de Nasce uma Estrela (2018), Cooper flerta com musicais e dramas densos, entregando um filme emotivo sobre amor e as inúmeras entrelinhas de um complexo relacionamento.

Logo de início, o filme apresenta um senhor tocando seu piano de forma melancólica, exibindo uma peça experimental que nitidamente o traz memórias. O homem em questão é Leonard Bernstein (Bradley Cooper), maestro americano que se tornou mundialmente famoso por reger orquestras sinfônicas, compor peças complexas e musicais como Amor, Sublime Amor. Cooper está completamente mudado: a maquiagem o transformou em um idoso em cada detalhe, da pele enrugada aos pelos dos braços. Esse trabalho minucioso de maquiagem, uma das categorias que o longa disputa, desenha o personagem desde seus 25 aos 70 anos de idade; e fazendo valer cada centímetro de prótese, Bradley Cooper (indicado ao Oscar de Melhor Ator), submerge em cada nuance de Bernstein ao longo das décadas, da vivacidade juvenil à ressaca de uma vida frenética.

A trama, como mencionei há pouco, perpassa décadas e de maneira certeira a fotografia de Matthew Libatique se molda de acordo com os anos retratados. A cena em que Lenny recebe o primeiro telefonema para comandar as batutas da filarmônica é de tirar o fôlego mesmo com sua aparente simplicidade de luz, sombra e direção. O aspecto quadrado do filme nos flashbacks tornam a narrativa mais íntima, como se estivéssemos espreitando a intimidade de Lenny e Felicia.

Mas o longa não é sobre as origens e sobre cada detalhe da vida do maestro. A história de Lenny, no filme, tem como fio condutor dois acontecimentos quase simultâneos em sua vida: a primeira vez que rege a Filarmônica de Nova York em público e quando conhece sua futura companheira, a atriz Felicia Cohn Montealegre (Carey Mulligan). Para Bernstein, talvez mais difícil do que reger uma orquestra, fosse controlar e coordenar os aspectos de sua existência: manter um relacionamento heteronormativo quando se é homossexual, deixar de lado suas amadas composições populares para se dedicar a algo “sério” como o erudito.

Cooper e Mulligan estão brilhantes em seus papéis e ambos disputam estatuetas. Mas para que eu, Gi, realmente considerasse o filme uma trama sobre uma história de amor, precisaria de mais sobre Felicia na tela e menos argumento “por trás de todo grande homem existe uma grande mulher”.

Maestro é um filme numa área turva, sem definir bem se o foco é Bernstein, seu casamento ou sua carreira. Talvez seja proposital, mas faltou um “molho” para que o longa fosse de uma ótima produção para uma excelente. Não deve levar o prêmio principal, mas é um dos favoritos nas categorias técnicas, como Melhor Maquiagem e especialmente Melhor Som, e, talvez, surpreender com Melhor Ator.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 28 de fevereiro de 2024.