O último mês do ano apressa o passo e eu quase não consigo acompanhar. Talvez, diferente do que pensava aquela mulher que me disse há 10 anos “Gigi, nós somos mulheres baixas mas é fato que temos pernas longas”, as minhas são curtas. Ou o fêmur do tempo aumentou consideravelmente. Bem, a essa altura do campeonato na década passada, eu buscaria álbuns de fotografias, blogs, escritos no caderno ou qualquer outro recurso que me fizesse relembrar o ano que vivi -- sem esquecer, claro, da retrospectiva que passava na Rede Globo.
Hoje em dia tudo é dado de mão beijada e até retrospectivas não solicitadas aparecem para gente (já virei o tipo de gente que fala “na minha época…”?). Recebi um e-mail do Google Maps me lembrando todos os caminhos percorridos em 2020. Tirando uma viagem de Carnaval, de março para cá meu percurso limitou-se a três municípios: João Pessoa, Cabedelo e Bananeiras, em outras palavras, minha casa e as casas dos meus pais. Um ano onde “raízes” tiveram um significado diferente.
O Spotify me mostrou que fui muitas pessoas num ano só. Foram 389 estilos musicais diferentes, no top 5 estão os gêneros Rock, Pop, Show Tunes, MPB e Indie Soul, respectivamente. Lembro de cada estado de espírito referente a essas audições e como eles refletiram diretamente no que tocava nas playlists. “Somos tristes porque ouvimos música pop? Ou ouvimos música pop porque somos tristes?”, já indagava Nick Hornby em “Alta Fidelidade”. A música que mais ouvi foi uma estreante no meu repertório: ‘Need Somebody to Love’, de Ady Suleiman, um genial músico da nova geração da soul music inglesa. Romântica. A segunda música tem uma atmosfera igualmente gostosa e romântica, ‘Movie’, de Tom Misch, que parece não desgrudar de mim há alguns anos. O curioso vem logo depois: as minhas outras três músicas mais ouvidas são faixas de ‘The Book of Mormon’ e ‘Hamilton’, dois musicais da Broadway (que inclusive já trouxe resenhas aqui na coluna). E muitas, muitas músicas dos anos 2000. Artista mais ouvido? Beyoncé. Essa eu já sabia.
Mesmo assim, não foi meu ano mais sonoro da vida. Ouvi poucos podcasts. Na verdade, itens suspeitos na lista. Meu dois mais ouvidos são projetos que faço parte, o ‘Nossa Fala’ e o ‘Caderno das Coisas Preferidas’. Escutei um pouco de ‘Second Life’ e ‘Praia dos Ossos’ também, mas não muito. Pouco mais de 18 mil minutos ouvidos, pouco mais do que 3% dos longos minutos de 2020.
Definitivamente, foi um ano visual para mim. No PlayStation 4 foram 15 jogos iniciados, destes, só cinco realmente joguei do começo ao fim. Foram eles ‘Red Dead Redemption 2’, ‘Life is Strange: Before The Storm’, ‘Journey’, ‘Detroit: Become Human’ e ‘The Last of Us - Parte 2’. Um saldo maravilhoso, pois nessa lista estão jogos de nota 8,5 a 10 na minha escala.
Inúmeras séries, curtas e longas. Foram mais de 400 episódios assistidos, de acordo com a retrospectiva do TV Time. Destes, 100 de ‘Jane the Virgin’ e 150 de ‘Gilmore Girls’. Foram longas jornadas. Na minha retrospectiva própria, 62 filmes. Em contrapartida, não me orgulho da retrospectiva literária: três livros de cabo a rabo e cinco deixados pela metade.
Olhando para trás, tive meus momentos dramáticos, românticos e cômicos. Tudo esteve refletivo no que consumi de cultura pop nos últimos 12 meses deste ano tão confuso. Para 2021, desejo mais equilíbrio. Mais músicas, mais livros. Menos tempo de tela, mais tempo em mesas de bar com amigas e familiares, todo mundo juntinho. Espero um 2021 de tête-à-tête, com altas doses de calmaria, e, claro, de vacinas.