Notícias

#87 Há dez anos, estreava ‘Game of Thrones’ na HBO

publicado: 14/04/2021 00h00, última modificação: 14/04/2021 09h43
GAME-OF-THRONES-S01E01-.jpg

Família Stark é apresentada no episódio de estreia da série baseada na obra de George R. R. Martin - Foto: Reprodução/HBO

tags: game of thrones , hbo , séries


Essa vai doer no coração tanto quanto dói ouvir que Britney Spears é “vintage” e Matrix é um filme “antigo, porém atual”: em 17 de abril de 2011, era exibido o primeiro episódio da estrondosa, premiada e recordista série da HBO Game of Thrones. A essa altura do campeonato, sabemos que nem tudo foram flores ao longo das oito temporadas (chamar as temporadas finais de adubo parece mais justo, na verdade). Rever o primeiro episódio, dez anos depois, foi uma reiteração, entretanto, que a força das primeiras temporadas foi tão grande que a série se sustenta como sucesso mesmo com o fracasso posterior.

Com narrativa envolvente e direção de arte impecável, uma hora de episódio passa voando. Lembro da confusão que senti quando vi uma porção de personagens e sobrenomes e casas e famílias e brasões e bastardos, uma vez que eu não conhecia a série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo, obras nas quais o seriado se baseia, de George R. R. Martin. É interessante ver como muito do que acontece já no primeiro episódio é importantíssimo para a trama, como a relação incestuosa de Jaime e Cersei (o primeiro episódio termina com a clássica frase “the things I do for love” seguida do fatídico empurrão de Bran Stark), os flertes entre Sansa e Joffrey, o convite de Ned Stark para ser Mão do Rei Robert, o casamento de Daenerys e Drogo e o primeiro avistamento dos Outros. Observar como as pequenas nuances dos personagens foram apresentadas de início e poder lembrar tão rapidamente de jornadas (e mortes, óbvio) é uma prova do quão memorável é o fenômeno Game of Thrones.

Meus olhos lacrimejaram quando a vinheta de abertura e o maravilhoso tema composto por Ramin Djawadi começaram a rodar. Foi um misto de sentimentos recordar da história, do desperdício da narrativa quando a série não mais era baseada nos escritos de George R. R. Martin e da própria mise-en-scène preparada para assistir a um novo episódio. Inclusive, minha coluna de #1 aqui no jornal A União foi sobre Game Of Thrones e a representatividade feminina na Grande Guerra mas, entre outros assuntos, lembrei das “watch parties”, nas quais eu e meus amigos e amigas nos juntávamos para assistir, em pleno domingo, um novo episódio da série.

É pensar como o roteiro das duas, talvez três, últimas temporadas conseguiu acabar vagarosamente a construção de personagens e seus potenciais catárticos. O exemplo de Daenerys é até fácil de dar, mas ainda Sir Jorah, Tio Ben e Bran Stark e até mesmo a matilha de lobos, só para citar alguns nomes do arco principal, mereciam muito mais. Sim, é muito delicado mexer com uma obra pré-existente. Eu costumo ser uma defensora de que nenhuma obra é intocável e sou aberta a consumir adaptações, apesar de geralmente concordar com a máxima “o livro é melhor”. Game of Thrones, a série para TV, é uma filha de várias mães e vários pais, mas é fato que sem a mente criativa de Martin, ela não se sustentou (ainda assim, 17,4 milhões de pessoas, contando só com os Estados Unidos, assistiram simultaneamente o primeiro episódio da 8ª temporada, em 2019). Os responsáveis pela adaptação para a HBO, D.B. Weiss e David Benioff, não merecem ser crucificados pelo rumo que a série tomou, afinal seus talentos são bem claros nas primeiras temporadas.

A série só acabou há dois anos, mas revendo o primeiro episódio, parece que ela terminou há meia década, antes de se perder. Talvez por isso eu não consiga excluir ou descartar a produção por completo. Na verdade, tenho fé que haverá uma reparação histórica, seja ela nas televisões ou nos livros. Por isso mesmo peço licença a vocês porque, neste momento, assistir os blu-rays com comentários e tudo está se tornado mais forte do que eu. O inverno está chegando!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 14 de abril de 2021