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#91 Um 'twitchverso' em expansão

publicado: 12/05/2021 08h00, última modificação: 12/05/2021 09h44
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Rapper Marcelo D2 criou seu próprio programa ao vivo de culinária na plataforma Twitch. - Foto: Reprodução/Twitch

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É engraçado como a gente sempre pensa que vive no ápice da tecnologia. Usando plataformas digitais consolidadas como YouTube, Facebook e Instagram, muita gente tem fé que nada mais vai vingar. Mas aí aparecem novas formas de consumo. Com elas, novas necessidades. A pandemia de covid-19 trancou o mundo em suas casas e o TikTok, uma ferramenta que se manteve longe dos holofotes há poucos anos, virou o aplicativo mais baixado diariamente tanto na Play Store quanto na AppStore. A ferramenta, que foi comprada por U$ 1 bilhão em 2018, hoje tem valor de mercado de 100 bilhões de dólares, de acordo com a agência de notícias Bloomberg. 

A facilidade com que se pode editar vídeos, brincar com filtros e explorar um catálogo gigantesco ajudou bastante nas distrações durante a pandemia. Enquanto o Instagram tentou criar o “Reels” como uma ferramenta concorrente, o TikTok não se intimidou e melhorou cada vez mais a experiência e o engajamento de seus vídeos. 

Outra plataforma que cresceu massivamente durante a pandemia foi a Twitch, que aumentou em 120% sua audiência durante 2020, de acordo com o TwitchTraker. Desde 2011, ela vem sendo líder no nicho de streaming de jogos e isso é inegável. Tanto que o YouTube tentou ser concorrente, mas no aspecto de possibilidades para transmissão de games, ele fica como ferramenta complementar. Aqui no Brasil, acompanhamos lives e mais lives especialmente no Instagram e no YouTube. Porém, a fim de mais qualidade de áudio, vídeo e melhor possibilidade de monetização, a Twitch apareceu como uma alternativa para além dos games. 

Por exemplo, você encontra no Twitch pessoas reagindo a vídeos no YouTube, gente sentada na sala apenas conversando, gente cozinhando e até gente estudando. Essa última categoria bem famosa é conhecida como “sprints”: o streamer coloca um cronômetro na tela e estabelece uma meta de leitura, com uma mensagem do tipo “vamos ler durante 30 minutos. Próxima pausa às 10:30”. A Twitch hospeda lives musicais (Marcelo D2 é usuário super ativo da plataforma, com programas ao vivo de música e culinários), podcasts transmitidos ao vivo, entrevistas políticas… Centenas de pessoas acompanham esses vídeos ao vivo. O twitchverso em constante expansão!

Mas a Twitch não é tão fácil ou simplificada como o TikTok. Além de demandar o uso de outros programas para hospedar a live, existe toda uma linguagem própria, códigos, recompensas e outras particularidades que a tornam uma plataforma totalmente gamificada e cria uma verdadeira comunidade. Me lembra bastante os tempos do mIRC, com salas de bate-papo ao vivo, moderadores, VIPs e nichos bem específicos e conteúdo customizado. Apesar de comandar o mercado de streaming de games, ela atinge “apenas” cerca de 2 milhões de views diários e, mostrando o potencial de seu engajamento, em abril de 2021 mais de 1 bilhão de horas foram assistidas pelos usuários. 

Confesso que conhecia o Twitch só de nome e nunca havia explorado propriamente a plataforma até o mês passado, quando decidi levar o nome ‘Gi com Tônica’ também para o streaming (www.twitch.tv/gicomtonica). A complexidade, que pode afastar, me deixou empolgada para aprender mais daquele universo repleto de outros universos. Me diverti estudando, quebrei a cabeça, incomodei os amigos pedindo ajuda e, no fim, deu tudo certo! Fiz a estreia na sexta-feira passada, uma transmissão de pouco mais de 1h enquanto jogava Shadow of the Tomb Raider e CupHead. É desafiador ler um chat, interagir em vídeo e jogar ao mesmo tempo? Com toda certeza. Mas no fim das contas a experiência foi tão divertida que minha admiração pela plataforma foi crescendo. 

Diversão é o que importa e a própria plataforma percebeu isso ao longo desses 10 anos de existência. Isso porque muito criadores de conteúdo estavam sendo afetados pela síndrome de burnout, uma completa exaustão mental. Hoje, não mais importa se você faz streamings de oito horas diárias, sete dias por semana. O recomendado, na verdade, é que você produza conteúdo ao vivo duas ou três vezes na semana e aproveite esses vídeos para alimentar outras plataformas, como YouTube e Instagram, e ir juntando seu público, que é diferente de acordo com a ferramenta. 

Ser criador(a) de conteúdo passou a ser uma profissão dos sonhos para centenas de milhares de pessoas. Quando o mercado ouve e atende as necessidades dos usuários, a experiência é melhorada significativamente e as grandes plataformas Zuckerberguianas, que insistem em apenas ditar e forçar mudanças não solicitadas, vão perdendo espaço para ferramentas mais democráticas, como o TikTok, e outras mais focadas em qualidade e senso de comunidade, tal qual a Twitch.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 12 de maio de 2021.