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#94 Olivia Rodrigo e o novo velho pop

publicado: 02/06/2021 09h28, última modificação: 02/06/2021 09h28
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Disco ‘SOUR’ tem estética de adesivos e patches parecidos com os usados nos cadernos de colegial dos anos 1990/2000 - Foto: Foto: Divulgação

tags: olivia rodrigo , pop , pop rock


Top 3 da parada brasileira no Spotify e o álbum mais ouvido globalmente na plataforma. Maior estreia do ano nos Estados Unidos. Um sucesso estrondoso e três nomes próprios: Olivia Isabel Rodrigo. Mal começou a carreira musical da norte-americana de apenas 18 anos e esses são alguns dos feitos de uma jovem que quebrou, nas últimas semanas, o universo do pop na Internet -- especialmente o TikTok.

A primeira vez em que ouvi o nome da artista foi na newsletter semanal do amigo Ricardo Oliveira, a Popcafé, no comecinho de abril. Ele comentava sobre o sucesso da música ‘Drivers License’, single que a ex-High School Musical havia lançado no YouTube, e a promissora carreira que estava por vir. Acertou em cheio. 

Produzida pelo músico Dan Nigro, Olivia Rodrigo apela para um gênero adormecido no mainstream: o pop rock. Nessa onda nostálgica, o disco SOUR vem carregado de referências aos anos 1990 e 2000, desde suas canções à estética do disco, que exibe a garota com adesivos e patches iguaizinhos aos que enchemos nossos cadernos no colegial. Pois é. A década de 1990 já é retrô.

O álbum de estreia traz um pouco de cada coisa que fez sucesso nessas épocas e o que faz sucesso atualmente: as referências rockers a Paramore e Avril Lavigne são tão palpáveis quanto as baladas de Taylor Swift e sussurros de Billie Eilish. 

Enquanto ela parece nova e refrescante para os ouvidos da nova geração, os millenials podem, e provavelmente, vão achar SOUR bastante familiar. Eu vou além e digo que o disco é familiar nele mesmo, com canções que quase não se diferem, além da astronômica ‘good 4 u’, que já conta com mais de 176 milhões de streamings só no Spotify. Por falar nessa faixa, não me decidi ainda se ela é plágio ou ode à ‘Misery Business’, de Paramore. Apesar de muito divertida, não consigo ouvir o hit de Olivia Rodrigo sem torcer o nariz.

Mas vê: não quero soar como a mulher da outra geração falando mal da nova. Eu acho ótimo que tenha uma representante do pop rock bombando desse jeito! Afinal, foi ouvindo as coisas da minha geração que as portas das referências anteriores foram abertas e pude desbravar os clássicos até entender que, pois é, tudo é uma cópia, um remix. Sim, o seu grande ídolo muitíssimo provavelmente bebeu de uma fonte anterior para criar aquele grande hit. A fonte pode ter sido uma secular música celta, uma ciranda de domínio popular, Muddy Watters (um salve, Led Zeppelin!) ou até Jorge Ben (um salve, Rod Stewart!). Claro, há originalidade por todos os lados, mas, em algum momento, aquilo que você leu, ouviu, assistiu, vai influenciar na sua arte. Quase nada na música se cria do zero, nem mesmo as loucuras acidentais do jazz. 

Eu aposto que daqui há 30 anos, alguma jornalista vai publicar que aquela nova artista que está bombando é filhote de Olivia Rodrigo. Paramore e Avril Lavigne vão ficando longe. Patti Smith, Blondie e PJ Harvey? Xi, aí nem se fala. Quem ganha e resiste é sempre ela: a arte. Toda sorte para Olivia e que, quando for o tempo, que venham os próximos!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 02 de junho de 2021.