Ontem, 13 de julho, foi celebrado o Dia Mundial do Rock. A data foi estabelecida há 36 anos, quando o megaevento Live Aid reuniu os maiores nomes do rock'n'roll mundial com o objetivo de angariar fundos para o combate à fome na Etiópia e em outros países africanos. Eu poderia escrever sobre como o gênero musical, criado por artistas negros, foi roubado de seus precursores para ser colocado no colo de intérpretes brancos. Ou poderia discutir como é inexpressiva a quantidade de pessoas negras que lotaram estádios ou lideraram bandas alçadas a "clássico do rock", não por falta de mérito, mas por falta de espaço e apagamento na indústria cultural.
Eu poderia apontar as críticas pesadas de corrupção envolvendo a tonelada de dinheiro arrecadado no Live Aid, aquele evento de rock com line-up formado majoritariamente por artistas brancos. Mas hoje não vou problematizar. Só vou plantar essa sementinha do caos e falar do que realmente importa: o rock.
Veja: existem vários "rocks". Tem o rock em casa, que aí é ouvir rock mesmo; tem rock do show de rock, para bater cabeça; e tem o rock na rua, que é qualquer tipo de rolê hardcore mas não necessariamente que toque hardcore. Pode ser uma festa punk, sabe? Mas sem a trilha punk. Um rock/punk/hardcore. Em outras palavras: rolê intenso.
Eu comecei a ir pros rocks quando tinha 15 anos (antes disso era "assustado"). Rock na casa dos amigos, rock na casa de desconhecidos, rock na praia, rock no centro... Era rock com força. E o melhor é que o rock daqui de João Pessoa até hoje é variado. Ele pode ser, por exemplo, ir pro Centro Histórico numa sexta-feira e perder um tênis numa roda de polga (ou pogo, ou punk, como você preferir).
Rock eclético numa área de 1 km² que envolvia precisar sair para resgatar o ar, fazer carinho num vira-lata caramelo, sentir o cheiro do churrasquinho; olhar para o outro lado da Praça Antenor Navarro e ver góticos socializando, virar a cabeça para a direita e ver um grupinho ouvindo reggae. Todos, dos moicanos aos bonés de aba reta, unidos em nome não de um gênero musical, mas de um estilo de vida: o rock.
Quer outro rock bom mesmo? Aqueles 30ºC com sensação térmica de 54ºC no Espaço Cultural lotado - e ai de você não tomar aquela Axé bem gelada num gole só, senão era capaz de cair duro no chão. Por falar em bebida gelada, uma grade de cerveja no Convívio ou no Contorno é rock universitário, rock dos bons. E nem sempre importa se a trilha sonora for brega, porque o que o importante é o rock, saca?
Tem gente que conta que o Live Aid aconteceu mais pelo rock, a farra, do que pela ação social. E que muitos artistas subiram nos palcos mais pela visibilidade em si do que pela boa causa (que não foi tão transparente assim). Aí é coisa de rockstar daquele tal de roque enrow.
Uma das frases que eu mais soltei nessa pandemia foi "que saudades de um rock". Porque não é a mesma coisa se hoje a gente for num bar da Feirinha de Tambaú porque isso non ecziste. Rock agora é rolê tenso. Não tem (nem deveria ter) aglomeração em barzinho, em casa de show, de conhecido e muito menos de desconhecido e rock só é rock se tiver gente envolvida. Deve ter sido isso que Lord Byron tinha em mente quando escreveu que "a felicidade só é verdadeira quando compartilhada". Forcei a barra na romantizada, desculpa. É a saudade falando mais alto.
A verdade é que depois de passar um ano e meio trancada em casa, sinto que serei bem menos seletiva nos futuros rolês.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 14 de julho de 2021.