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#43 A brilhante arte do ‘storytelling’ em ‘Red Dead Redemption’

publicado: 08/04/2020 09h43, última modificação: 03/11/2020 11h25
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Game ‘Red Dead Redemption 2’ está disponível para as plataformas PS4,XboxOne e PC

tags: red dead redemption , rockstar games , games , videogame , jogos , gi ismael


Costumo elencar as melhores coisas em listas que guardo para mim mesma. Melhores filmes, melhores shows, melhores discos e por aí vai. Na lista dos melhores jogos, desde 2010, o western da produtora RockStar Games, Red Dead Redemption, se espreitava entre os cinco melhores. Não sou do público amante de bang-bang e prefiro a violência ficcional mostrada de outras formas. Dito isto, foi surpreendente me encantar tanto por um jogo aparentemente voltado para os amantes de faroeste.

Como fã da franquia Grand Theft Auto desde criança, quis dar uma chance ao então novo game da RockStar. Jogos de arcade na década de 1980 já exploravam o tema ou ao menos o ambiente do Velho Oeste, claro. Mas talvez pelo dinheiro da produtora ou pela equipe genial por trás do jogo (talvez a combinação dos dois), RDR veio como uma competição desleal a tudo que já havia sido lançado no estilo até então. Além de ter uma história densa e cativante, com marrentos criminosos em busca de uma redenção perante a vida e perante a lei, o game já trazia com maestria cenários estonteantes, missões carregadas de ação, sidequests divertidas, minigames e desafios intermináveis (e não de uma forma ruim). O jogo havia sido o primeiro o qual continuei explorando possibilidades meses após Qter terminado a missão principal pelo simples deleite proporcionado pelo jogo – e por pena de aceitar que havia, de fato, terminado. Quase 10 anos depois, vem Red Dead Redemption 2 para a felicidade de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Antes de contar a história da série Red Dead Redemption, sem spoilers, você precisa entender que Red Dead Redemption 2 (2018) é um prequel de Red Dead Redemption (2010), ou seja, a história acontece antes do enredo do primeiro jogo. Em 1899, um grupo de fora da lei vive em fuga após um desastroso roubo na cidade de Blackwater, no sul dos Estados Unidos, que ocasionou no extermínio de todo o município. Comandado por Dutch van der Linde, o bando formado por homens, mulheres e crianças decide fazer um último grande roubo para fugir de vez das autoridades e encontrar uma vida digna longe dos EUA. Esta parte da história se passa em RDR2, quando jogamos com Arthur Morgan, um dos atiradores da moribunda gangue. Já em RDR1, quase 20 anos depois na cronologia do game, jogamos com John Marston, também um dos membros da antiga quadrilha. Querendo viver uma vida diferente daquela na época de Van der Linde, John é procurado pelo FBI e outras autoridades norte-americanas e precisa entregar os membros restantes da gangue, entre eles o ex-chefe Dutch, se quiser viver em paz com sua família.

Nesse meio-tempo, existem muitos elementos que tornam ambos games marcantes e até revolucionários. São em média 60 horas só de história principal no jogo mais recente, quase o dobro de horas do primeiro jogo. Falei de GTA mais acima e continuo amando a série. Mas ela nunca conseguiu alcançar a complexidade e empatia conquistada por RDR, talvez porque o público de GTA esteja mais adestrado à fórmula de história rasa dos jogos Triplo-A (são os blockbusters de ação, digamos assim). Red Dead é carregado de ação, mas nem só isso define o game. Ele é contemplativo, com paisagens e vida selvagem que aparecem em detalhes surpreendentes e indescritíveis no segundo game da franquia (são mais de 600 espécies de animais, por exemplo). Muitas questões históricas são trazidas como plano de fundo em RDR2, como o surgimento da Ku Klux Klan e o estado racista norte-americano, o massacre do povo indígena e o sufrágio feminino. Pequenos encontros com personagens não jogáveis (NPC) e detalhes longe do foco da história principal fazem o ambiente do jogo ser mais palpável e único (isto sem contar com as possibilidades no modo on-line).

Gostaria de ter o tempo que tinha há 10 anos para realmente me aprofundar no jogo e ficar vidrada durante semanas seguidas. Mas, desta vez, a experiência foi diferente, jogada parcimoniosamente ao longo de meses. Explorei o mapa com calma. Joguei missões paralelas e até virei observadora de pássaros entre um tiroteio e outro. Acabei com a reputação de “bom moço”, mas poderia ter escolhido um lado diferente no jogo e ter vivido um fora-da-lei sem arrependimentos. O ciclo de Red Dead Redemption pareceu tão bem fechado que provavelmente não teremos um novo game da franquia, ao menos nem tão cedo. Mas ainda assim, torço por uma personagem feminina jogável em breve e introduzir uma NPC como Sadie Adler e o contexto feminista neste game mais recente foi só uma preparação dos caminhos que devem seguir novas franquias da RockStar.

É, aparentemente, meu “top cinco games de todos os tempos” ganhou um novo membro colado com o posto ocupado por Red Dead Redemption. Mas não espere de mim favoritismo, essa tarefa é difícil demais até para uma jovem desbravadora de terras montada num cavalo.

*publicado originalmente na edição impressa de 8 de abril de 2020.