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#70 A Noite do Terror

publicado: 21/10/2020 00h01, última modificação: 03/11/2020 11h25
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Depois da sua mãe, Janet Leigh, ser aterrorizada por um psicopata nos anos 1960, quase duas décadas depois é a vez da Jamie Lee Curtis, no clássico ‘slasher’ ‘Halloween’

tags: HALLOWEEN , TERROR , FILMES DE TERROR , JOHN CARPENTER


Aaah...  fim de ano! Chegou a época do ano a qual tenho vontade de viver todas aquelas tradições capitalistas estadunidenses que pouco tem a ver com o meu contexto. Já sinto o cheiro de lanternas de abóboras no ar mesclado com doces e travessuras. Vem
ni mim, Halloween. 

O Amazon Prime Video está no mesmo clima que eu. Entraram em catálogo nove filmes dos onze da franquia Halloween, entre eles, o primeiro de todos, lançado nos Estados Unidos em 1978 e em 1980 aqui no Brasil. Só neste fim de semana o assisti pela primeira vez.

Halloween: A Noite do Terror apresenta a história de Michael Myers, um garoto da pequena cidade de Haddonfield, Illinois, que foi internado num hospital psiquiátrico aos seis anos de idade após assassinar sua irmã no Dia das Bruxas de 1963. Quinze anos depois, ele foge da instituição e volta para seu lar com o objetivo de recriar os eventos daquela fatídica noite, desta vez em 31 de outubro de 1978. 

Ao lado de O Massacre da Serra Elétrica, Halloween foi um dos precussores do estilo slasher no horror além de ser um dos filmes independentes de maior sucesso da história, com orçamento de U$ 300 mil e receita de U$ 47 milhões (cerca de U$ 180 milhões hoje em dia). O filme de John Carpenter tem um belo clima trash. Inúmeros erros de continuidade, overdub esquisito, furos no roteiro... Cá entre nós, acho charmoso demais. Se um filme, apesar de todos esses pesares, conseguiu ultrapassar o status "B-movie" e tornar-se um pioneiro no estilo slasher e um clássico do terror, algo a mais existe. Para mim, o design de som do longa é quem exerce um grande papel nessa história toda. "O filme é uma verdadeira exploração grosseira", disse Carpenter em entrevista à Chic Magazine em 1979. "Eu decidi fazer um filme que eu adoraria ter visto quando criança, cheio de truques baratos como numa casa assombrada onde as coisas saltam em você enquanto você anda pelo corredor", continuou.

Carpenter, além de roteirista do longa (ao lado de Debra Hill) e diretor da obra, compôs ainda a trilha sonora. Nela moram os acordes dissonantes menores temerosos, que causam desconforto, estranheza. Carpenter brinca com o tema do assustador Michael Myers sempre que o personagem está por perto, repetindo inúmeras vezes a simples melodia ao longo do filme. Ainda melhor são os silêncios absolutos em algumas cenas, às vezes nem tão absolutos quando o som diegético chega a nós apenas para entregar de bandeja os sustos repentinos que nos tiram da poltrona (caio nessa todas as vezes). Alfred Hitchcock ficaria orgulhoso. Cito Hitchcok porque o mestre do suspense foi uma grande influência para John Carpenter em sua filmografia, principalmente Halloween. Esse foi um grande motivo pelo qual Jamie Lee Curtis foi convidada a interpretar a mocinha da história: ela é filha de Janet Leigh, a eterna Marion Crane de Psicose (1960).

Em 2021, mais um filme da franquia chegará às telonas e telinhas, o Halloween Kills: O Terror Continua, com direção de David Gordon Green e protagonizado pela própria Jamie Lee Curtis. O longa entrega muitos sustos previsíveis e aí mora a beleza do terrível: eles só são antecipáveis porque foram copiados exaustivamente, em incontáveis filmes, após a obra de Carpenter. Halloween: A Noite do Terror fez escola no nicho e é um clássico óbvio (que me passou batido por anos) para quem é fã de jumpscares e cinema slasher.

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 21 de outubro de 2020.