Olá! Há quanto tempo, não? Sumi por um bom motivo: tirei as tão almejadas férias e, para a raiva dos terraplanistas e felicidade minha, atravessei o globo e fui para um mundo completamente novo chamado Japão. Confesso que ainda pensei se daria certo manter a coluna durante a viagem, escrever tudo com as experiências ainda borbulhando. Mas digo para vocês que meu ‘abestalhamento’ diário foi tamanho com as diferenças culturais que a decisão de deixar tudo para a minha volta foi melhor.
Há muito o que se dizer e espero que vocês me acompanhem nos próximos textos. Vou usar esse espaço para falar de temas como costumes, religião, games, vida noturna e por último, mas nem de longe menos importante, a culinária.
Esse aqui é o primeiro texto de uma série especial que intitulo ‘A Tônica do Japão’, onde trago uma perspectiva geral dos dias iniciais da expedição. Capítulo 1:
“Nihon e youkoso!”
Os relógios do aeroporto marcavam 13h17 do dia quatro de setembro, mas meu corpo e minha cabeça me falavam com toda certeza “Menina, você até que está disposta para quem viajou por horas e chegou à uma da madrugada no outro lado do mundo”. Eu ri na cara do perigo e disse que ‘jetlag’ era besteira. Ledo engano. Primeira dica importante: se for viajar para um local onde o fuso horário tenha 12 horas de diferença, passe pelo menos 10 dias viajando -- sofri com o danado do ‘jetlag’, que poderia ser conhecido também como ‘menstruação’, tamanha foi a surra do cansaço e da estranheza no meio do dia durante uma semana.
Fizemos escala nos Estados Unidos, em Newark, antes de partir para as terras nipônicas e talvez por isso o povo japonês tenha parecido tão simpático e gentil com quem estava chegando de viagem, da tripulação aos agentes que conferiam nossos passaportes (essa foi uma das impressões que se manteve até hoje, na verdade). Chegávamos em Tóquio, a multifacetada capital do Japão, lar de mais de 13 milhões de habitantes e destino de outros milhares de turistas. Além dela, visitamos Quioto, Osaka, Nara, Hiroshima, Fukuoka e Nikko.
Quase todas conseguem mesclar o contemporâneo e manter o tradicional (digo “quase” porque Hiroshima revela uma cidade que foi construída do zero). Lembro logo de quando estávamos em Quioto numa quente manhã de segunda-feira. Fomos tomar um café gelado num Starbucks (que lá existem aos montes); a loja ficava num prédio comercial de dez andares num complexo onde a porta dos fundos dava para o templo budista de Rokakku, construído no período Heian (794-1185). Foi um dos templos mais lindos que visitamos em toda a viagem (e sim, foram muitos, entre budistas e xintoístas).
Voltando para Tóquio e nossas primeiras impressões, ficamos inicialmente no bairro de Ryogoku, uma vizinhança pequena com restaurantes, templo budista, parque, ginásios de sumô e a principal arena da região. Com ruelas sem calçadas e com muitas bicicletas transitando em meio a casas típicas e letreiros vibrantes das casas de karaokê, ali foi uma amostra mínima, mas ainda assim significativa, das diferentes camadas que compõem o país. A gente tremeu um pouco nas bases também quando a primeira ida a um restaurante bem tradicional deixou claro que nem em um país de primeiro mundo que já já vai receber as Olimpíadas as pessoas têm a obrigação de falar inglês e que a gente ia sofrer um pouco mais com a comunicação do que imaginávamos.
Comunicação no sentido mais amplo da palavra também, já que o país é muito silencioso até nos locais que parecem improváveis para a gente, como ônibus e metrôs. Celulares, só no silencioso. Fones de ouvido devem ficar numa volume que não vaze som para quem está sentado ao seu lado. Conversas baixinhas. Mas aí, quando alguns locais são feitos para barulho, como bares, boates, cassinos e estações de games, eles fazem barulho a plenos pulmões. É, o Japão consegue ser bem intenso quando quer. A paixão pelos esportes é uma delas: nesses 20 dias por lá, passamos por cidades que recebiam as Copas do Mundo de Rugby e de Vôlei, partidas de basebol e torneios de Sumô.
Hospedados num aconchegante albergue, vimos a primeira privada tecnológica da nossa viagem e, olha, elas merecem um parágrafo próprio. Foram 19 dias no Japão e pelo menos 6 experiências diferentes incluindo banheiros tecnológicos, fossem em hotéis um pouco mais sofisticados ou, não se enganem, também em estações de metrô, shoppings e albergues. Em hospedagens que ficamos, com banheiro compartilhado ou não, disponibilizavam pantufas próprias para usar no toilete. Encontramos privadas com bidê embutido onde você controlava temperatura da água, intensidade do jato e distância para que a água atingisse o lugar certo. Teve vaso sanitário literalmente, com lencinhos agregados e desinfetante para você limpar o assento. Ou ainda aqueles com botões que tocavam música ou chiados para que ninguém ouvisse os ônus e bônus de uma ida ao trono. Vale uma menção honrosa aos que tinham bidê-secador e aos que aqueciam o assento.
Meu deus, olha o tamanho desse parágrafo. Nunca achei que fosse escrever tanto sobre banheiros na minha vida. Mas tem a ver com tradição e tecnologia também. É que a ida ao banheiro é encarada como um ritual do aconchego por lá. Você já deve ter visto em filmes ou animes banheiros onde existe um banquinho dentro do box, com um espelhinho e um aparador para você sentar e relaxar até debaixo do chuveiro. Encontramos vários desses espaços.
Deu para perceber que tudo foi uma experiência nova, né? É claro que não dá para resumir um país considerando só 7 cidades visitadas durante 20 dias, nem colocar numa caixinha como vive uma nação inteira baseada nas minhas perspectivas. Então aviso logo que daqui para frente os textos serão tão pessoais quanto esses.
Simbora?