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#4 Além do game over

publicado: 22/05/2019 10h18, última modificação: 03/11/2020 11h26
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- Foto: Divulgação Sony PlayStation

tags: videogame , playstation , playstation production , gi ismael , gi com tônica

(coluna publicada originalmente em 22 de maio de 2019)

Mortal Kombat. Alone in the Dark. Resident Evil. Super Mario Bros. Tomb Raider. Talvez você tenha reconhecido que todos esses títulos são games de sucesso de vendas e público. Provavelmente você também percebeu que todos esses roteiros foram adaptados para as telonas e, das duas uma: ou ficaram marcados como filmes medianos ou péssimos. Além da parte técnica de alguns dos longa-metragens, a reclamação é quase sempre a mesma: quando se joga, a imersão é tão intensa, as histórias -- muitas vezes -- tão bem desenvolvidas e o nível de diversão é tão alto que duas horas no cinema não conseguem traduzir sensação igual e a tendência é que o resultado seja desastroso.

Mesmo assim, a Sony se arriscou. Ela começou a semana anunciando a abertura do PlayStation Productions, um estúdio que vai produzir e executar adaptações para filmes e séries televisivas dos games exclusivos dos consoles PlayStation. Em uma entrevista para o portal GameSpot, Asad Qizilbash, o CEO da nova empresa, afirmou que tudo foi muito bem pensado e a ideia é justamente apagar a noção de que existe uma maldição do fracasso quando se trata de adaptações de games.

A notícia me deixou preocupada quando li sobre “títulos exclusivos”. Qual a necessidade de, sei lá, transformar uma obra-prima como God of War (2018) em uma série televisiva? Ou ainda um filme baseado no (digo aqui com tranquilidade) melhor jogo da história The Last of Us (não só a versão remasterizada é exclusiva para PS4, como já foi anunciado que a continuação será apenas para a plataforma da Sony)? Mas pode se acalmar junto comigo. Não é bem essa intenção.

Justamente porque tanta coisa ruim foi feita com games que estavam muito bem, obrigada, os executivos da PlayStation pensaram bastante no assunto da produtora. Primeiro de tudo: eles entendem sobre jogos. Entendem o público, conseguem prever o que funciona e o que é ambicioso demais e pode ser um tiro pela culatra. Estão há quase 30 anos no mercado e entregam produtos cada vez mais aprimorados. “Como você pega 80 horas de jogabilidade e transforma num filme? A resposta é que você não faz isso. O que você precisa é pegar aquele éthos e escrever algo especificamente voltado para o público do filme. Você não tenta recontar a história do game num longa”, disse Qizilbash na entrevista para o GameSpot.

Eu sei, isso não parece novidade -- afinal, foi o que vários daqueles lá do começo do texto tentaram fazer. Só que o estúdio quer dar um passo além, quer criar histórias que sejam uma interseção, um mundo multimídia para uma só franquia, um conteúdo entre as sequências. E isso sim me empolgou muito.

Mas a gente não é inocente ao ponto de achar que tudo isso foi pensado tendo em vista como nerds do mundo todo vão ser mais felizes. A ideia sendo bem-feita como estão cantando a bola, cria a possibilidade da indústria audiovisual chegar um pouco mais perto do faturamento astronômico da indústria dos jogos eletrônicos. Uma matéria da SuperInteressante mostrou que em 2016, enquanto os 100 filmes mais lucrativos fizeram juntos U$ 25,6 bilhões, todos o faturamento com games em diversas plataformas (como smartphones, PCs e consoles) ultrapassaram U$ 91 bilhões no mesmo período. Um comparativo ainda mais recente: o blockbuster ‘Vingadores: Ultimato’, custou U$ 200 milhões e arrecadou em 11 dias U$ 2 bilhões. Em 2013, a RockStar Games lançou GTA V, produção de U$ 265 milhões. Em apenas 3 dias, o game arrecadou metade do que Vingadores fez em quase duas semanas. Ele se tornou o produto mais lucrativo de toda a indústria do entretenimento e o faturamento do jogo já passa da casa dos U$ 6,6 bilhões.

Boa parte das gerações de gamers procura mais interatividade, mais imersão, mais histórias empolgantes, mais conteúdo extra. O fracasso de muitos outros foi necessário para que algo polido e muito bem pensado, finalmente, aparecesse. É, parece que a Sony fez uma jogada de mestre.