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#67 Como pode?

publicado: 30/09/2020 00h03, última modificação: 03/11/2020 11h25
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Como pode um jogo como Among Us ser mais popular do que The Last of Us - Parte II? Um usuário do Twitter levantou essa questão na semana passada e gerou um bom e velho debate sobre o que é um produto “bom” e o que é um produto “medíocre” na indústria cultural. Os jogos comparados em questão não possuem nada de semelhante a não ser o fato de serem… jogos. Enquanto TLOU-2 é um jogo AAA (ou triple A) com gráficos tremendamente realistas, enredo envolvente e aprofundamento digno das melhores produções pós-apocalípticas hollywoodianas, exclusivo para Playstation 4, Among Us é um game para mobile e PC "point & click" que conta com apenas um cenário, personagens cartunescos, algumas caixas de diálogo e, esteticamente, parece um jogo de consoles da década de 80. 

Analisar esses pontos em si já torna o questionamento extremamente subjetivo -- como falei antes, o que é ser bom ou o que é ser ruim? Há quem deteste jogos de zumbis, carregados de drama, suspense e terror como The Last of Us; assim como há quem deteste joguinhos casuais online. Aí vem uma questão: será que realmente os gamers preferem jogos casuais como Fall Guys, um divertido multiplayer nos moldes das Olimpíadas do Faustão (sério) que em menos de um mês tornou-se o jogo mais baixado da história da PlayStation Network? 

De um lado, temos um game exclusivo para uma plataforma que custa pelo menos R$ 2 mil. O jogo em si, voltado para o público adulto, passa dos R$ 200 e levando em consideração que existe outro jogo da franquia e conteúdos adicionais indispensáveis, apenas com a franquia The Last of Us os gamers brasileiros podem gastar facilmente cerca de R$ 500. Ainda nas condições de compra de jogos e consoles usados, comparar o acesso aos dois jogos citados no debate é até injusto. Among Us, um game para toda a família, é disponibilizado de graça em smartphones, na Steam, serviço de games para computadores, custa uma média de R$ 10,89. Lembra Fall Guys que eu citei mais acima? O jogo passou um mês disponibilizado de graça, hoje em dia custa por volta de R$ 40. Não é difícil enxergar a popularidade dos jogos casuais entre usuários do Brasil principalmente.

Toda essa questão me lembra o debate elitista da MPB vs. Pop aqui no país. Onde já se viu colocar Marília Mendonça, Anitta, Mc Rogerinho no topo das paradas? E Caetano? E Gil? E Gal? Cadê? O raciocínio é o mesmo: a música mais popular é aquela disponibilizada mais abundantemente para a população, seu consumo é mais barato e ela está sempre na mídia gratuita (emissoras de televisão e rádio, principalmente). São gêneros e estilos pertencentes a gravadoras e selos que alimentam o ciclo vicioso que transita entre "isso dá dinheiro porque é o que o povo quer" e "é isso que o povo quer, então vai gerar dinheiro". Vai comparar um ingresso de R$ 25 do Fest Verão a um ingresso de R$ 400 para um show de Chico Buarque. 

Esse lado sombrio capitalista não chega tão fortemente nos games mais populares, isso porque eles geralmente são desenvolvidos por estúdios bem pequenos de games independentes, que ralam no dia a dia para criar conteúdos legais e diferenciados, como é o caso da InnerSloth. A produtora existe há apenas quatro anos, só tendo produzido dois jogos neste tempo. Um deles é justamente Among Us, baixado mais de 50 milhões de vezes apenas na Google Play. Acertaram em cheio apostando na simplicidade, diversão e o melhor de tudo: precinho bom pro bolso.