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#144 Dos “talkshows” aos “podcasts”

publicado: 24/08/2022 00h00, última modificação: 14/09/2022 09h55
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Uma mídia crescente no Brasil, os podcasts explodiram no momento de reaproximação, pós-período pandêmico - Foto: Foto: Divulgação

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por Gi Ismael*

Vocês lembram da enxurrada de “lives” que aconteceram diariamente em redes sociais como o Instagram durante a pandemia? Era tanta gente jogando conversa fora, entrevistando outras pessoas, se maquiando, tocando música, e também tantas outras pessoas assistindo isso tudo, que os servidores, por diversas vezes, simplesmente caíram. Estávamos carentes de contato e com uma ansiedade pesada devido a ameaça da covid-19. Passado o cenário pandêmico mais caótico que mal poderíamos imaginar, tivemos 2022 como o ano das reaproximações. Algumas outras ondas do vírus vieram, mas não foram tão devastadoras como as anteriores – apesar do vírus ainda ser acompanhado de fatalidades. Amém vacinação, controle sanitário, lockdown, reeducação e novos hábitos. 

Foi nesse momento de reaproximação que uma mídia crescente no Brasil explodiu: os podcasts. Inspirados em programas de rádio, eles surgiram como um recurso audível feito por pessoas que, em sua maioria, nunca haviam trabalhado em emissoras ou qualquer área da comunicação. Assim como os blogs nos anos 2000, os podcasts eram um recurso de liberdade criativa que, progressivamente, ia alcançando públicos que passaram a incluir aquelas audições de episódios em suas rotinas diárias. No Brasil, os primeiros surgiram em 2006, o Café Brasil e o Nerdcast, ambos ativos até hoje. 

Mas diferente do que eram há 15 anos, ou seja, produtos completamente nichados e que poucas pessoas sabiam acessar através plataformas agregadoras, RSS e afins, hoje tomaram proporções astronômicas, adentrando o mundo das celebridades, das pessoas bodybuilders, investidoras do mercado financeiro, comediantes, adestradoras de cães e de, basicamente, qualquer assunto debaixo do sol. E logo os podcasts, que permitiam entrevistas e integrações entre pessoas em qualquer lugar do mundo, logo eles, que a ideia era serem apenas ouvidos, migraram para os encontros presenciais e filmados, com direito a cenários bonitões e looks de milhões. Primos de terceiro grau dos “talkshows”. 

E isso provavelmente aconteceu porque lá naquele momento das lives pandêmicas (trocadilho proposital), foi-se percebendo que os usuários de redes sociais têm interesse em longas conversas em vídeo, ainda hoje, como geralmente acontecia em programas grandes de entrevistadores como Marília Gabriela, Pedro Bial, Jô Soares, Tatá Werneck e tantos outros ao longo das décadas. E quando esse formato chegou nos influenciadores digitais, a coisa estourou. Perfis de fofoca compartilhavam cortes em vídeo de algum trecho polêmico, sub-celebridades jogavam algum rumor ou abordavam um assunto polêmico e, cabum!, todo mundo agora sabe o que é um podcast. É tipo um programa de rádio, só que na Internet; é tipo um talkshow, só que na Internet. 

Eleições presidenciais batendo na porta e, em 2021, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva aceitou os convites para ser entrevistado tête-à-tête pelo Podpah, um podcast com mais de 1 bilhão de visualizações no YouTube, e por Mano Brown no Mano a Mano. Em conversas transparentes e sem papas na língua, foram horas de assuntos dos mais diversos. Há poucas semanas, foi a vez do atual presidente Jair Messias Bolsonaro de marcar presença em um podcast de grande alcance, o Flow. Para o bem ou para o mal, todos episódios repercutiram em massa e passaram das centenas de milhares de reproduções na internet. 

Na última segunda-feira (22), o Jornal Nacional deu início à sua sabatina com os candidatos à presidência da República nas eleições de 2022. Com Jair Bolsonaro (PL) como convidado, o JN alcançou sua maior audiência do ano. Para além do conteúdo em si, chamou atenção como a sabatina mudou em relação às eleições de 2014. Ao invés de apenas 15 minutos, a conversa passou para mais de 40 minutos. Com cenário mais arredondado e mais claro, a entrevista foi conduzida de uma forma mais pessoal e até passional, menos fria. Tudo foi um prato cheio para que os cortes fossem republicados em tempo real na Internet. E assim o foi.

Demos uma volta de 360 graus: os apresentadores dos programas de entrevista da televisão nacional e internacional influenciaram criadores de conteúdo, que, por sua vez, influenciaram a televisão nacional e internacional a pensar outros formatos. Só não se deixe levar pela onda dos podcasts de fofoca e lembra que, por mais descontraído que fiquem certos conteúdos, quando se trata de candidato à presidência, já não é mero entretenimento. É caso de vida ou morte. Mesmo.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 24 de agosto de 2022.

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