Fink, nome artístico de Fin Greenall, reside num local entre o bluesman e o músico folk, com voz grave e aveludada ao mesmo tempo. Há quase 20 anos, dedica-se ao seu talentomor e, por mais reservado que seja, já gravou sete álbuns de estúdio e acumula parcerias com Amy Winehouse e John Legend, além de ter aparecido na trilha sonora em séries como House, The Walking Dead e Better Call Saul. Existe alguma voz que, logo na primeira nota, te faz fechar os olhos e sentir um conforto instantâneo? Fink. Pra mim, essa é uma das poucas vozes. E meu sentimento é que, ainda com um currículo cheio, ele não tem a visibilidade que merece.
O conheci através de um grande amigo e artista, Romulo Temigue. Nossa amizade à distância nos permite compartilhar incessantemente novas descobertas musicais em pastas conjuntas na nuvem ou nos aplicativos de mensagens há dez anos. Foram dezenas de figurinhas trocadas, mas o supertrunfo sempre foi Fink. Talvez por isso, ele tenha passado para uma categoria de “música nostálgica”, aquela que transcende o tempo-espaço. Até as canções mais novas trazem a sensação, como se o timbre do artista, mais do que suas faixas, ditasse a enxurrada de memórias afetivas.
São dez anos acompanhando a carreira de Fink e muito acontece em uma década para mim, para ele, para você. Lembro de onde estava a primeira vez que o ouvi e ligo cada momento da minha vida desde então a um disco diferente, os bons e os maus (momentos, no caso. Os discos são sempre bons, no mínimo). A simbiose platônica era absurda quando ele cantava aquilo que eu queria ouvir. Quando não me identificava, era como escutar um desabafo de um grande amigo que mora longe.
Em outubro de 2019, Fink lançou o Bloom Innocent, sétimo de sua discografia. É um álbum carregado de doces harmonias vocais e instrumentos de corda em seus timbres mais graves. O disco foi gravado em seu estúdio caseiro e finalizado em Londres e, em uma entrevista para o site Guitar.com, ele contou que isso foi uma escolha quando ele decidiu desacelerar. Disse ainda que o disco anterior, lançado em 2017, o traz muito orgulho, mas envolveu tanto estresse em dois meses de produção num estúdio profissional que a atmosfera de ‘tempo é dinheiro’, sentida a toda hora, era algo que ele não queria mais. Sentou em casa, lembrando de fabulosos discos de Pink Floyd e Radiohead, e quis entrar num processo íntimo, com músicas que carregassem mais feeling do que plug-ins. “Não é sobre violão, baixo, bateria e teclado. É sobre criar uma atmosfera”, disse.
Nascem, então, oito faixas que se espreguiçam ao longo de seis, sete minutos cada. Parcimonioso, Fink canta sobre o amor, relacionamento a distância e, aí vem ela, a nostalgia. No disco se destacam canções como ‘I Just Want A Yes’ e ‘My Love’s Already There’, músicas que entregam o álbum para você embrulhado no mais bonito papel de presente. E que presente foi ouvir ‘Bloom Innocent’ tardiamente, logo no ano em que eu assopro as dez velinhas de aniversário como grande apreciadora. Não sou egoísta: deixo aqui o QR Code para que você ouça o disco junto comigo e, quem sabe assim, comece a acumular memórias com um novo artista preferido.