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#134 'Love, Death & Robots' chega ao volume três

publicado: 08/06/2022 08h00, última modificação: 07/06/2022 10h52
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tags: love, death & robots , netflix , sci-fi

por Gi Ismael*

Com que roupa eu vou? “Should I stay or should I go”? Qual serviço de streaming devo cancelar?

Escolhas… Escolhas são inevitáveis em nossa vida. Quando o assunto é aperto no bolso então, nem se fala. Quando nos permitimos algumas escapatórias de lazer, elas geralmente são as primeiras a serem cortadas do orçamento. É de se contar nos dedos quais produções Netflix, por exemplo, valem a inflacionada mensalidade da plataforma, mas hoje volto a falar sobre uma dessas que deixam mais difícil a tarefa de largar o osso: ‘Love, Death & Robots’. 

A série de animação criada por Tim Miller (‘Deadpool’, ‘O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio’), com produção de David Fincher (‘Clube da Luta’, ‘Garota Exemplar’) e Joshua Donen, chegou no volume três com um excelente apanhado de curtas para deixar fãs de obras de H.P. Lovecraft, Douglas Adams e irmãs Wachowski em deleite. Após uma primeira temporada com 18 episódios e um bom saldo, a segunda deu umas cambaleadas mas ainda assim trouxe curtas memoráveis. Considero esta nova temporada a melhor quando se faz um balanço de impacto e entretenimento. 

Talvez seja a mais sangrenta fase da produção, é verdade. O que não significa que o humor, presente em eventuais capítulos, tenha sido deixado de lado. A começar pelo curta 'Os Três Robôs', com o carismático trio de exploradores que apareceu no volume um da série. Desta vez, as máquinas fazem um tour pelos falíveis planos infalíveis da humanidade quando tentavam se salvar da iminente extinção. Mais uma vez entregando sarcasmo, tiradas visuais afiadas e críticas nada sutis ao ego, poder e tendências autodestrutivas, ‘Os Três Robôs’ é o episódio mais leve da temporada e um dos curtas que definitivamente merece um spin-off. 

'Ratos de Mason', por sua vez, é uma ode a Chuck Jones e os desenhos Looney Tunes regados a TNT e escopetas (só que para maiores de 18 anos, com gráficos realistas e sangue jorrando, claro). Encarei esse como uma redenção ao capítulo 'Atendimentos ao cliente', do volume dois, que deixou a desejar. Outro destaque entre os engraçadinhos da temporada é 'Noite dos minimortos', um frenético capítulo sobre jovens “transantes” que dão início a um apocalipse dos mortos-vivos. Entre os 35 episódios lançados até agora, esse foi um dos mais inventivos no estilo de animação, usando fast-forward, visão isométrica e efeito tilt-shift (ou seja, o desfoque nas bordas para dar impressão de miniatura) ao longo de toda a narrativa. O roteiro é de Jeff Fowler, diretor de ‘Sonic: O Filme’ e ‘Sonic 2: O Filme’. 

À parte os eventuais capítulos tragicômicos que só a ficção científica distópica pode nos apresentar, 'Love, Death & Robots' costuma abordar mais horror e drama e é neste volume três onde se encontram alguns dos episódios mais pesados da série. Se na temporada de estreia destacou-se 'Para além da fenda de Áquila' e, na segunda temporada, tivemos títulos fortes como 'Esquadrão do extermínio' e 'Snow do deserto', os capítulos 'O Fazendeiro' e ‘Viagem Ruim’ são os mais impressionante do terceiro volume. 

'Viagem Ruim' é um gosto do puro "gore" que dita o tom desta remessa. No capítulo, tripulantes a bordo de um navio capturam o Thanapod, um crustáceo gigante e faminto, um ser racional e capaz de se comunicar e fazer demandas. Repleto de imagens grotescas, e, ao mesmo tempo, com elementos visuais afinadíssimos, o episódio reflete sobre a democracia e liberdade de escolhas numa espécie de dilema do trem. Mais um ótimo capítulo, por sua vez escrito por Andrew Kevin Walker, roteirista de ‘Seven: Os Sete Crimes Capitais’ (1995) de Fincher.

Já ‘O Fazendeiro’, escrito e dirigido por Alberto Mielgo (que também assina o episódio ‘A Testemunha’, no volume um), é um episódio magnético, deslumbrante, angustiante. O conto sobre ganância (tema que rege quase toda a temporada) apresenta uma criatura mítica que se assemelha a uma sereia, especificamente a Iara da crença brasileira, uma figura feminina protetora, que atrai homens com seu canto, sua dança e suas escamas de ouro. Apenas um homem é imune aos seus encantos: o soldado Jibaro, um deficiente auditivo. Para além da animação hiper-realista, vemos escolhas de direção interessantíssimas, com a impressão do uso de diferentes lentes e câmeras, e desenho de som de tirar o fôlego. 

Infelizmente, eu não teria espaço para comentar episódio por episódio desta que eu considero a melhor temporada até então. Mas disse outra vez por aqui e repito: ‘Love, Death & Robots’ continua sendo uma das mais instigantes produções originais Netflix, tanto pelas dezenas de microcontos originais, quanto pela prova de que o extraordinário campo da animação é simplesmente ilimitado. 

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 8 de junho de 2022.