É meio estranho falar no jornal impresso sobre uma data que já passou, ainda mais quando esse dia é o 8 de março. Muito já se foi dito até esta quarta-feira, inclusive aqui no jornal A União (ao longo do ano a pauta de protagonismo feminino é bem explorada por aqui). Percebo que, com o passar do tempo, temos falado menos dos clichês e mais do que é ser mulher -- trans ou cis -- neste período. Talvez seja minha bolha. E eu estou bem feliz nela. É essa minha bolha que me faz ter contato com outras mulheres que geram conteúdos maravilhosos e, ainda bem, diversificados. Foi no dia 8 de março que eu e outras 23 estreamos numa plataforma digital multimídia chamada Nossa Fala. É sobre ela que quero falar hoje porque diversidade e representatividade falam muito sobre a cultura de uma sociedade.
Na edição de domingo do jornal, a repórter Ana Flávia Nóbrega falou os detalhes do projeto, mas para resumir, somos um time formado por mulheres de diferentes áreas como jornalismo, direito e arquitetura. Ela foi idealizada pelas publicitárias Marcela Quirino e Érica de Oliveira (esta última também jornalista). Em apenas dois dias de estreia, já temos episódios de podcasts sobre o 8M e body positive, além de textos sobre futebol, empoderamento negro e autorreflexão. Imagina o tanto de riqueza de conteúdo que teremos daqui a apenas um mês, quando ainda os vídeos começarão a ser produzidos?
Esse é, na verdade, um texto mais sobre abertura de espaços para a voz. Para falas que ainda precisam ser mais ouvidas. Temos em nosso time mulheres negras, brancas, trans, gordas; algumas que estão nos seus 20, outras nos 30, 40, 50 e 60 anos de idade. Pode ser que elas, nós, falemos sobre o que representamos, nosso lugar no mundo, no mercado de trabalho, preconceitos que sofremos, enfim, pautas necessárias. Mas isso não é regra. Esse é um espaço para simplesmente soltarmos nossa voz sobre o que mais a gente quiser. Por lá, o espaço será para além do que faço aqui no A União: aqui, ficam os textos culturais, de resenhas e análises, principalmente; lá vou escrever crônicas, textos com cunho social e, bem, o que mais der na telha.
Apesar de feito por mulheres, o conteúdo não é necessariamente para nós. Não é excludente. Sentimos a importância do diálogo aberto para todos no evento de abertura. Homens e mulheres juntos, ouvindo com atenção e sem interrupções o que cada uma tinha a dizer. Choramos, homens e mulheres. Rimos, homens e mulheres. Aprendemos. Homens e mulheres.
Mas vê só como esse tipo de iniciativa, o coletivo, é importante. Antes mesmo da nossa estreia, houve uma mobilização em nosso grupo de WhatsApp para ajudar uma moça que havia sido vítima de violência, por pouco um feminicídio, por parte do marido. Ela passou por coisas horrendas agora, com seus 23 anos de vida. Ainda passa. Para além do site, nossos textos e vídeos, vimos algo mais importante acontecendo, alguém que precisava de ajuda, de onde quer que ela viesse.
Muito ódio circula na Internet. Mas lá também é uma tela em branco para iniciativas de transformação social. A Nossa Fala é apenas uma num mar de centenas de milhares delas. Conheça a plataforma: www.nossafala.com.br
*coluna publicada originalmente na edição impressa de 11 de março de 2020