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#24 O ano de Lizzo

publicado: 05/12/2019 11h33, última modificação: 03/11/2020 11h25
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- Foto: Foto: Getty Images/2019

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Perto de terminar 2019, a cantora e rapper norte-americana Lizzo pode considerar o ano como um trampolim absurdo para sua carreira. Com o nome de batismo Melissa Vivianne Jefferson, a artista de 31 anos se juntou a Beyoncé, Rihanna, Janelle Monáe e Cardi B como as únicas mulheres negras a atingirem o topo das paradas Billboard nesta década. Ela foi indicada este ano a oito Grammys, entre eles o de melhor álbum, melhor música e artista revelação. A música ‘Truth Hurts’ conquistou o posto de rap feminino solo há mais tempo no #1 das paradas.

Lizzo é um contraste com uma outra artista que vem arrastando prêmios e multidões no cenário da música pop: a jovem Billie Eilish, de apenas 17 anos, que aposta numa voz mais suave e por vezes sussurrada, uma personalidade de adolescente esquisita e um visual que mistura um emocore com hip-hop. No outro lado, vem o furacão Lizzo. Vigor, potência, manequim GG, sensualidade, postura de musa soul e amor próprio. Além de revigorante, Lizzo e sua música são importantes porque botam uma mulher negra, gorda e LGBT num pedestal, em lugares de uma indústria limitada e preconceituosa onde poucas como ela alcançaram.   

Mas a ideia de sucesso repentino não se encaixa aqui (na verdade, um sucesso completo que surge do nada é raro em qualquer lugar do mundo). Lizzo canta desde os nove anos de idade e começou como flautista erudita alguns anos depois. Foi cantora em bandas de Rock e em 2012 começou a carreira solo nos gêneros Rap e R&B. Em 2013, debutou com o disco ‘Lizzobangers’. Dois anos depois, ‘Big Grrrl Small World’. O fim da década trouxe ‘Cuz I Love You’, álbum que rendeu as indicações citadas acima e ainda troféus em premiações como o Video Music Awards e American Music Awards. A música ‘Good As Hell’, que entrou há poucas semanas nas paradas, foi lançada em 2016. Antes disso, muita gente já apostava na carreira dela, como o icônico Prince.  


Em 2014, ela foi convidada a colaborar com Prince (1958 - 2016) na música ‘Boytrouble’ do disco ‘Plectrumelectrum’, um dos últimos da carreira dele. Essa foi a primeira de grandes parcerias. Talvez Lizzo não imaginasse que no futuro ela fosse a artista a convidar outros para colaborações (Missy Eliott, Ariana Grande, Charli XCX). Já são quase quatro anos desde que a artista de ‘Truth Hurts’ saiu da carreira independente para assinar o contrato com a Atlantic Records, gravadora que tem em seu legado nomes como Aretha Franklin, Rolling Stones, Led Zeppelin e Otis Redding e, atualmente, Bruno Mars, Coldplay e Cardi B.  

Passei o fim de semana ouvindo (tardiamente) o álbum lançado em abril deste ano e foi uma postagem de Lizzo ontem nas redes sociais que me fez escrever esse texto. O nível de admiração aumentou quando ela mostrou de onde e a que veio: “Oito anos em turnês, distribuindo ingressos para meus shows que não venderam, noites em meu carro sem dormir, a perda do meu pai e desistência da carreira musical, tocando em troca de cerveja e comida com menos 32 dólares na minha conta bancária, constantemente escrevendo músicas, ouvindo ‘não’ mas sempre dizendo sim. Ainda bem que eu nunca desisti". Além de tudo que representa, ela é também um exemplo da luta que é viver de arte. Essa é a cara do “sucesso repentino” e me pergunto quantas ‘Lizzos’ estão ralando por aí, esperando estar no lugar certo, na hora certa, mas sem nunca desistir.


*publicada originalmente na edição impressa de 27 de novembro de 2019