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#15 Parahyba vive!

publicado: 07/08/2019 10h13, última modificação: 03/11/2020 11h26
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- Foto: - Divulgação


Trezentos e quatro. Espera, eu sou ruim em chute mas essa não é uma estimativa tosca da idade do município de João Pessoa (que completou ontem 434 anos. Viu? Eu sei.). Esse foi o número alcançado numa breve enquete que postei no Facebook há dois anos: 304 projetos musicais autorais estavam ativos em 2017 na Paraíba. A maioria, por conta da minha bolha na internet, formada em João Pessoa. Arrisco dizer que o número real é bem maior.

Mas qual a cara dessas centenas de projetos? O que define a “música paraibana”? Bem, é melhor você olhar o final da página da sua revista Coquetel se procura respostas tão exatas. O termo “música paraibana” é na verdade tão amplo e subjetivo quanto “música alternativa”. Temos pelos estúdios e palcos daqui sons herdados de Jackson do Pandeiro e de Cátia de França. Assim como de Bob Marley, de Pink Floyd, de AnaVitória, de Dream Theater… 

Exemplo prático: escrevi o texto ouvindo o novo disco de Severino, músico patoense, chamado ‘Grown Up Emancipation’. O álbum me causou aquela estranheza gostosa: nunca ouvi isso sendo feito na Paraíba e por exatamente esse motivo achei legal. Ele tem influências de Bowie e Dylan, com psicodelia, folk, blues que aparecem em músicas cantadas em inglês -- menos uma, onde o sotaque paraibano é nítido. O disco acabou e começou o ‘Parahyba Vive!’, de Vieira. Nele, ouço influências de Jaguaribe Carne e uma música que merece ser degustada sem maiores destrinchamentos.   

Isso é a pontinha do iceberg, e te digo que tem música para todo gosto sendo feita no 083, composições que vão carregar o título de “clássicas” em não muito tempo. Veja: não estou dizendo que a música de João Pessoa é como um bom vinho. Metáfora melhor seria compará-la com um dia bem quente, você com os pés na areia da praia e com uma cerveja gelada em mãos. O primeiro copo vai ser dos deuses. Assim como o segundo, o terceiro, o quarto… 

Ontem foi aniversário de João Pessoa e refleti como a multiplicidade de nossa música faz com que a percepção de uma cidade supostamente tão provinciana seja diferente de pessoa para pessoa, baseada em canções que falam sobre nosso cantinho. Jaguaribe, o centro histórico, Mangabeira, o extremo oriental, nossas ruas; todos foram inspiração para letras acompanhadas de ritmos distintos. Como você cantaria a sua João Pessoa?

Por muito tempo, reproduzi algo que ouvia sempre: João Pessoa não tem nada para fazer. Mordi minha língua quando comecei com o jornalismo cultural e vi que a verdade era bem longe disso. Por aqui, se cria e se transforma. Parahyba é lugar onde as paredes escutam e ecoam. Quando penso em João Pessoa, lembro dessas centenas de pessoas que fazem música e o filme vem acompanhado de uma trilha sonora de encher o peito.

(Você pode encontrar várias playlists de músicas feitas na Paraíba no Spotify, a minha está nesse link: https://spoti.fi/2M3AVVp )

*publicada originalmente na edição impressa de 07 de agosto de 2019